No final
do mês recebi uma das mais gratificastes notícias que alguém poderia receber. O
diretor do meu curso fez um levantamento dos cinco melhores alunos de todos os
períodos de jornalismo e para minha surpresa, meu nome ficou em segundo lugar
da minha sala. Não conseguia conter minha felicidade, pelo menos uma vez meu
esforço tinha valido a pena.
Com isso
comecei a pensar seriamente em adiantar as matérias para que conseguisse me
formar antes. Eu tinha total consciência do quão trabalhoso isso seria e que
iria me desgastar demais, mas pelo menos, no futuro teria mais tempo para ficar
com minha família e iria conseguir começar a trabalhar antes. Em minha opinião,
esse meu plano valeria muito a pena só que como não se tratava só de mim
precisava comentar com Ian sobre isso, mas ainda não tinha criado coragem o
suficiente para pedir opinião dele.
Infelizmente
nem tudo estava como eu planejava... Minha vida parecia uma balança que eu
nunca conseguia equilibrar os lados; em um prato estava minha faculdade junto
com minha vida profissional e em outro minha vida pessoal junto com a minha
família. Esses meus dois lados pareciam dois imãs que quando eu tentava
juntá-los se repeliam por estarem em faces iguais. Me irritava o fato de que eu
não conseguia ir bem na faculdade sem estar de mal com Ian ou vice-versa e
infelizmente não podia desistir de meus estudos e não ter uma profissão, eu
precisava dela para ser bem sucedida e poder ajudar Ian com as despesas da casa
e isso era algo que Ian não concordava.
Meu
casamento estava passando por um período de turbulência, o clima estava pesado
em minha casa e eu e Ian estávamos discutindo semanalmente. Nunca pensei que
fosse tão difícil ser mãe, estudante e esposa ao mesmo tempo, no final do dia
eu estava exausta e minha cabeça explodia de tanto estresse. Me sentia uma
inútil por não conseguir ser uma mãe tão presente quanto eu desejava ser e por
não conseguir atender as necessidades de meu marido. Às vezes eu só queria um
colo de mãe ou alguém a recorrer, alguém que eu pudesse deitar nas pernas e que
acariciasse meus cabelos falando que tudo aquilo era uma fase e que iria
passar... Normalmente quem me consolava assim era Ian, mas ele andava tão
estressado devido aos negócios da família dele que eu tinha até medo de me
abrir. Podia soar estranho mas nós estávamos nos distanciando e isso aos poucos
estava acabando comigo porque eu o amava demais ainda.
Ok, não
posso colocar a culpa da crise de meu casamento exclusivamente em minha
faculdade. Esse envolvimento de Ian nos negócios de seu pai também estava
cooperando com a nossa instabilidade. Ele tinha que sempre se encontrar com
Megan por causa dos projetos e isso estava me corroendo por dentro. Eu sentia
que desde que essa maldita mulher tinha aparecido, minha relação com Ian tinha
decaído. Pode parecer bobagem ou perseguição mas eu não podia deixar essa
hipótese de lado. Eu acreditava em Ian mais que tudo, mas eu ficava insegura
demais quando ele saía para se encontrar com Megan.
Porque as
coisas não podiam ser como eu queria? Será que todo o meu sofrimento da
adolescência não tinha sido o suficiente para uma vida?
...
Aquela
semana estava sendo insuportavelmente difícil. Tinha ficado praticamente todos
os dias depois da aula para estudar na biblioteca e na sexta feira estava
exausta.
Eu estava
indo embora, já não vendo a hora de chegar em casa e ficar com Ian e Alice.
Parecia que o caminho até meu carro era de quilômetros e quando estava quase
chegando tive que me segurar para não xingar Alex de nomes horríveis quando ele
me segurou o braço.
– Nina,
tem um segundo?
– Claro,
o que houve? - Forcei um sorriso simpático.
– Sei que
você deve estar um tanto cansada, mas não quer sair comigo essa noite para
conversar? Beber alguma coisa?
– Mais
alguém vai? - Perguntei estranhando.
– Não,
não, só nos dois mesmo. Eu até tentei chamar os outros mas eles não quiseram,
então... - Respondeu um tanto atrapalhado.
– Alex, é
que... - Gaguejei um pouco procurado as palavras certas para que não o
machucasse. - Não me leve a mal, mas é que eu realmente queria ir para casa
agora. Queria ficar com a minha filha e meu marido, sabe? - Falei aliviada.
– Ah sim,
claro, claro... - Falou desajeitado.
– Sinto
muito... - Olhei meio cabisbaixa.
– Tudo
bem Nina, outro dia a gente combina.
– Uhum. -
Forcei um sorriso.
– Hey...
Estou te achando muito para baixo ultimamente - Ele me olhou carinhoso pegando
minha mão. - Você sabe que pode contar comigo, não é mesmo? - Levou a outra mão
livre para tocar meu rosto. Não queria recuar para que ele não se magoasse mas
eu não estava gostando daquela intimidade dele comigo. Por mais que eu adorasse
Alex, aquela proximidade estava me incomodando um bocado.
– Esta
tudo bem, é só a faculdade e todos os estudos que estão me tirando do serio. -
Respondi. - Obrigada por se preocupar... - Acrescentei. - Mas enfim, boa noite
Alex... - Falei me afastando enquanto ele chegava mais e mais perto.
– Boa
noite! - Sorriu me dando um beijo de despedida bem no canto de meus lábios,
quase cobrindo minha boca com a sua.
Quando
tentei falar alguma coisa ele pegou meu rosto e puxou para ele dessa vez me
beijando de verdade. Fiquei estática, não sabia o que fazer, estava
completamente sem força para empurra-lo e sua língua já pedia brecha contra
meus lábios.
Cerrei
meus lábios com força impedindo que ele conseguisse me beijar. Fui tentar falar
alguma coisa mas sem querer abri minha boca e sua língua se encontrou com a
minha. Não sei dizer se eu o correspondi ou não, mas eu só queria que aquilo
acabasse logo.
– Alex,
não! - Falei brava pra ele. - No que você esta pensando? Eu sou casada! -
Cerrei o cenho. - Posso estar passando por uma crise em meu casamento mas eu
amo Ian demais!
– Nina! -
Tentou se defender mas eu o impedi.
– Olha
Alex, amanha conversamos sobre isso! Eu estou cansada e vou acabar falando
coisas que não devo para você. - Respirei fundo. – Espero que isso não se
repita nunca mais! - Dei meia volta o deixando sozinho. Entrei no meu carro
rapidamente trancando as portas assim que entrei para que ele não viesse atrás
de mim e entrasse no carro.
Eu fervia
de ódio, meu corpo tremia de raiva. Como ele teve coragem de me agarrar desse
jeito? Minha vontade era de voltar até ele e estapear seu rosto descontando
toda minha raiva. A proposta era cativante mas assim que olhei o horário no
carro me dei conta de que já era tarde e se eu voltasse iria demorar ainda
mais.
Dei
partida no carro e sai cantando pneu do estacionamento. Liguei o rádio quase no
ultimo volume e tentei me concentrar no caminho.
Não sabia
como ia reagir com Ian, não sei se tinha chego a ser traição mas mesmo assim
não fazia a mínima ideia de como ia olha-lo depois do ocorrido principiante por
estarmos tão estranhos um com o outro. Eu era uma idiota, uma burra por ter
deixado isso acontecer...O caminho inteiro lutei contra as lágrimas, não
conseguia explicar a culpa que eu estava sentindo.
Estacionei
o carro na garagem e assim que sai do carro consegui ouvir Alice chorando me
chamando. Entrei em casa e a vi no colo de Ian e ela tentando a acalenta-la.
– Calma
princesa, mamãe ta na escola estudando e já volta. - Ele acariciava seus
cabelos e a ninava em seu colo.
– Não!
Não! Não! Eu quero a mamãe! - Gritou.
– Oi
princesa, mamãe chegou!
– Mamãe?
- Choramingou.
– Sim,
cheguei. - Sorri chegando perto deles. - O que houve?
–
Estávamos assistindo televisão e dai ela viu um bebe com uma mãe e ficou te
chamando... - Ian me explicou.
– Aw mamãe
esta aqui amor, venha! - A peguei no colo e ela me abraçou forte. - Faz tempo
que ela esta chorando?
– Faz...
- Ele respondeu.
– Porque
não me ligou? Eu viria na mesma hora, estava só estudando.
– Não
queria atrapalhar.
– Ian,
ela é minha filha, nunca atrapalha. - Falei calma pra ele.
– Mamãe,
quero que você leia uma história para mim... - Falou secando as lagrimas.
– Então
vamos lá no seu quarto que eu leio, ok?
– Uhum...
Deixei
minhas coisas no sofá e passei por Ian dando vários selinhos nele sendo
correspondida de bom grado. Culpa, culpa, culpa... Que ódio que eu estava de
mim.
– Mamãe,
não quero mais a história da chapeuzinho vermelho... – Choramingou.
– Porque,
amor? É sua favorita...
– Não
gosto mais, o lobo mau vai vir me pegar...
– Não,
não amor. Quem te falou isso?
– Eu sei
que ele vem! – Retrucou.
– Ali, o
lobo mau só existe na história, ele não é real! Ninguém vai vir pegar você
amor, eu e seu pai vamos estar aqui para te proteger...
– Acho
que foi na escola que a assustaram, ela está há uma semana com medo do lobo
mau. – Ian estava encostado na porta nos assistindo.
– Hey
papai, venha brincar com a gente...
– Ué, mas
você não quer mais história?
– Não
agora eu quero brincar com vocês dois! – Sorriu sapeca. – Papai, senta ai que
eu quero brincar de chá...
– Mas há
essa hora? – Ele perguntou.
– Sim,
chá da noite, ué! – Riu.
Alice
estava elétrica, tinha dormido duas horas na escola e agora estava sem sono sem
falar que minha pequena estava com saudades de mim e não tinha me deixado desde
a hora que eu tinha chego, então ficamos brincando nós três até a hora que ela
foi dormir o que foi mais ou menos meia noite.
Agradeci
por ser sexta feira e amanha poderia ficar em casa porque além de estar
exausta, minha cabeça explodia de dor. Eu só pensava em acabar com a minha
fome, deitar em minha cama e tentar esquecer o que havia ocorrido no
estacionamento da faculdade. Acho que essa culpa iria me seguir pelo resto da
vida...
Ainda
pensando no ocorrido, deixei Alice dormindo em seu quarto, tomei banho e fui
para cozinha jantar. Enquanto preparava minhas coisas senti Ian me abraçar por
trás beijando meu pescoço.
– Que
delicia... - Sorri sentindo minha pele se arrepiar. Fiquei extremamente feliz
por ele estar voltando ao normal e que já estávamos de bem.
– Senti
tanto sua falta.... - Sussurrou em meu ouvido.
– Eu
também... - Larguei tudo o que estava fazendo e me aconcheguei em seus braços
sorrindo em meio aos beijos que ele me dava na bochecha.
– Não
vejo a hora de essa sua faculdade acabar, pequena.
– Eu
também não. - Me virei de frente pra ele recebendo carinho gostoso no rosto e
logo sendo beijada apaixonadamente.
Deixei
que Ian guiasse o beijo no ritmo que ele quisesse e eu só correspondia
preguiçosamente. Foi incrível como eu esqueci de tudo com o contato de nossos
lábios... Acho que poderia ficar o beijando até meu remorso ir embora. Uma de
suas mãos prendeu em meus cabelos enquanto a outra apertava forte minha
cintura. Se não fosse pelo meu humor terrível misturado com cansaço e dor de
cabeça, com certeza eu já teria entrado em seu clima e logo nós selaríamos as
pazes dignamente. Mas infelizmente eu não estava com a mínima vontade de fazer
aquilo que ele estava com vontade. Sutilmente o afastei colando nossas testas e
fazendo carinho em seu rosto.
– Amor,
podemos só dormir hoje? Não estou muito no clima...
– Hey, o
que houve?
– Só
estou cansada, essa semana foi muito corrida e minha cabeça esta doendo
muito...
– Mas já
chegamos a esse estagio? - Falou um tanto irritado.
– Oi ?-
Perguntei desentendida.
– Deixa
pra lá... - Saiu da cozinha me deixando sozinha ali sem entender nada.
Quando
fui para sala pra procura-lo só o encontrei com um cobertor e seu travesseiro.
– O que é
isso? - Perguntei. - Você não vai dormir comigo só porque eu não quis transar
com você?
– De uma
certa forma sim, mas estou saindo... - Falou sem olhar pra mim.
– Ian, o
que esta acontecendo? - Cruzei o braço forte em meu peito.
– Nada
ué! Eu queria me divertir, mas você não quer, então vou sair pra jogar poker
com meus amigos! - Deu de ombros.
– Tudo
bem, esfrie a cabeça que amanha conversamos... - Falei controlando as lagrimas.
Ian pegou
as chaves do carro de cima da mesa de centro e saiu de casa pegando um casaco
do cabide.
Depois de
dias separados aquela noite foi a única que me permiti chorar. Não podia
acreditar que meu casamento estava por um fio.
Em meio a
lagrimas fui para meu quarto me deitando na cama e desmoronando em choro.
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Não saía sem comentar (: