Horário
livre, deus, há quanto tempo que eu não tinha horário livre? Uns bons dois anos
ou mais que eu não ficava atoa. Nunca agradeci tanto por um professor ter
ficado doente.
Tinha
jurado a mim mesma que não iria me preocupar em estudar nesse meio tempo e nem
pensar em alguma coisa que fosse em relação com estudos. Iria tirar aquele
tempo para mim, para relaxar mesmo.Com isso eu, Candicce e mais uns colegas,
que estavam em horário livre também, nos sentamos no pátio para conversar. Alex
e uns garotos ficaram jogando poker em uma roda no chão ao nosso lado,
apostando maços de cigarro e rodadas de tequila e vodca para mais tarde
enquanto conversávamos e dávamos risadas deles. Fiquei conversando sobre Alice
com Candicce quando meu celular tocou mostrando que era Ian no identificador de
chamadas. O atendi e nós ficamos uns vinte minutos conversando. Ficamos falando
besteiras e Ian ficou me fazendo corar com assuntos inusitados principalmente
porque eu não podia responder de voz alta.
– Chega,
chega! - Falei alto no telefone. - Chega de se divertir as minhas custas...
– Esta
gostando? - Me perguntou rindo.
– Não,
não estou gostando! - Menti mordendo o lábio.
– Duvido!
Você mente tão mal senhora Somerhalder... Eu sei que você estava adorando!
Principalmente na parte que eu falei... - Tentou terminar mas eu o cortei.
– Eh,
parou com a sacanagem! - Falei - E não, eu não estava! - Rangi os dentes.
– Pare de
mentir Nina! Você não estava gostando, estava adorando.../i> - Riu.
– Não
estou mentindo. Agora me deixe e vá trabalhar... – Falei tentando segurar o
riso.
– Admita
que quer mais...
– Adeus
Ian! - Ri dele e desliguei o celular.
Olhei ao
meu redor e percebi que ninguém prestava muita atenção no que eu conversava no
telefone e eu agradeci demais pelo jogo de poker estar sendo tão atrativo
naquele momento.
– Meu
deus, esse cara tem mais do que mil expressões para jogar, onde já se viu isso!
- Um dos garotos que estavam jogando na rodinha falou estressado jogando as
cartas que estavam nas mãos no rosto de Alex. - Desisto, vou ficar sem cigarro
assim.
– Ah qual
é? Pare de ser fraco, só porque não sabe perder? - Alex riu.
– É
impressionante isso, impressionante! - Falou o mesmo.
– Não,
sabe o que é realmente impressionante? -Alex perguntou olhando para mim.
– O que é
impressionante, seu chato? - Cruzei os braços olhando pra ele debochada.
– Esse
carinha grudento que fica te ligando o tempo todo. - Riu. Eu o olhei cínica e
só sorri.
– Esse
carinha, é o meu marido... - Ergui a mão esquerda e mostrei a enorme aliança de
ouro no meu anelar. Tive que me segurar para não rir da reação de todos em
minha volta.
– Ele é
seu o que? - Perguntou perplexo.
– Meu
marido! - Respondi orgulhosa.
– Você só
pode estar brincando... - Riu. - Não acredito que você é casada...
– Meu
deus, fala serio Alex, vai me dizer que nunca viu essa enorme aliança na mão da
Nina! - Candicce entrou na conversa.
– É obvio
que eu já tinha visto, mas pensei que fosse só um anele não uma aliança... Ou
aqueles anéis religiosos para casar virgem. - Deu de ombros fazendo Candicce
rir.
– A Nina,
casando virgem, piada nova...
– Mas
agora falando serio, quando você casou?
– A dois
anos...
– Wow!
Porque isso?- Perguntou espantado. - Digo, porque tão cedo?
– Porque
sim, porque eu amo meu marido, só isso...
– Meu
deus, me conte tudo agora! Suspendo as jogadas, agora o assunto ficou legal.
– Não tem
nada a contar! Nada demais!
– Como
assim nada? Quem nos dias de hoje se casa com dezenove anos?
– Eu
casei!
– Wow...
Nina já é patroa! - O mesmo garoto que criticou Alex por ele ter ganhado a
rodada fez o comentário.
– Patroa?
A Nina é mãe de família já! - Candicce falou rindo.
– Mãe?
Espera ai, você já é mãe? - Alex perguntou ainda perplexo.
– Sim, há
três anos já! - Puxei a corrente que usava e mostrei meu pingente de menina com
ouro branco.
– Você
foi mãe aos dezoito?
– Uhum!
– Ok,
agora eu estou impressionado!
– Não
entendo por que... - Dei de ombros.
– E você
o ama? - Ele me perguntou. - Ele te ama?
– E você
acha que eu estaria casada há dois anos com um homem não o amando ou ele não me
amando?
– A Nina?
- Candy falou. - Se ela ama Ian? - Riu. - Ela é simplesmente louca por ele.
Nunca vi casal tão apaixonado quanto eles.
– Bom, é
certeza que esse anel não é religioso... - Riu. - Então, parabéns e felicidades
para sua família. - Riu. - Queria muito conhecer sua filha, se ela for parecida
com você é a coisa mais linda do mundo... - Comentou me fazendo corar. Já não
era a primeira vez que Alex tinha dado em cima de mim e pra falar a verdade não
estava gostando nada dessa intimidade que nossa relação tinha tomado de uns
dias pra cá.
– Ela é
parecida com o pai mas realmente é a coisa mais linda do mundo! - Sorri boba
lembrando minha pequena dos olhos azuis.
– Que
coisa mais linda... - Ele riu debochado.
– Você é
um besta sabia disso? - Revirei os olhos.
Alex era
uma pessoa boa mas ao mesmo tempo conseguia me irritava um pouco. Não sei por
que mas ele tinha uma facilidade em me tirar do serio, vivíamos brigando e
muitas vezes era por besteira. Não gostávamos das mesmas coisas, tínhamos
opiniões completamente diferentes e gostávamos de coisas completamente
distintas. Mas ainda assim gostava muito dele, era ótimo o ter como companhia e
por incrível que parece ele sempre conseguia me fazer rir com suas piadinhas
infames.
Ficamos
discutindo, digo, ficaram discutindo sobre minha vida pessoal até entrarmos na
sala para próxima aula e depois disso, para minha alegria, esse assunto morreu
e no final do dia ninguém parecia lembrar do que havia dito.
Estava
uma tarde chuvosa em Upper West Side e com certeza em toda Nova Iorque, então
quando acabou o dia na faculdade me ofereci a dar uma carona para Alex até pelo
menos à metade do caminho.
Infelizmente
só consegui leva-lo até seu segundo ponto de ônibus porque a chuva estava forte
demais e o transito estava impossível o que me fez demorar mais do que o
previsto.
Depois de
muito transito, estresse e músicas no rádio, consegui estacionar meu carro na
garagem. Entrei em casa e Ian e Alice estavam sentados no chão da sala
brincando de boneca.
– Mamãe!
- Alice veio correndo até mim.
– Oi meu
amor! - Sorri me agachando e a pegando no colo a abraçando forte. Alice tinha
um cheirinho de frutas vermelhas do seu shampoo misturado com seu perfume de
bebe. - Meu deus mas como esta cheirosa essa minha princesa!
– Papai
me deu banho... - Sorriu delicada.
– E você
deu um beijo e um abraço no papai de obrigada?
– Dei! -
Sorriu assentindo. - Brinca de casinha comigo?
– Mas é
claro que eu brinco, vamos ali. - Peguei sua mãozinha e fomos até o centro da
sala.
Ian estava
sentado de costas para mim um tanto quieto vestindo uma boneca de Alice.
– Oi meu
amor... - Falei sentando ao seu lado.
– Oi! -
Sorriu fraco me olhando. Ele estava um tanto frio e eu estranhei isso. Toquei
sua nuca acariciando seu coro cabeludo com as pontas dos dedos.
– O que
foi? - Perguntei pra ele.
– Você
demorou!
–
Desculpe amor, estava muito transito por causa da chuva e eu dei uma carona a
Alex...
– Alex?
De novo esse garoto?
– Ian,
estava muita chuva, fiquei com pena dele.
– Espera,
você foi até o brooklyn? - Perguntou desconfiado.
– Não
tecnicamente, fui até a metade do caminho.
– E nem
pra nos avisar?
– Ian,
foi só uma carona....
– Eu sei
Nina, mas eu não gosto desse cara! Você esta andando demais com ele e eu não
gosto disso!- Falou carrancudo e bravo.
– Depois
conversamos sobre isso, agora vou brincar com a minha filha.... - Não iria
discutir com Ian sobre isso naquele momento, principalmente porque Alice estava
ali e eu sei que iríamos terminar brigando feio. - E então, quem vai ser minha
filha? - Dirigi minha atenção a Alice que brincava sozinha no canto.
– Ninguém
- Sorriu malandra. - Eu vou ser sua mamãe e você tem que me obedecer.
– Ah é
assim então? - Coloquei a mão na cintura fazendo um tom diferente.
– Uhum! Agora
eu vou fazer seu papa e você tem que comer tudinho!
– Vou
pensar no seu caso...
– Tem que
comer tudo pra ganhar sobremesa... – Falou colocando as mãos na cintura me
imitando.
– Oba,
mas eu não posso comer a sobremesa antes, mamãe?
– Não! -
Cruzou os braços brava.
– Vou
tomar banho... - Ian falou depois de um tempo em silencio.
– Não
papai, fique aqui, quero brincar com os dois! - Ali choramingou.
– Não
princesa, curta sua mãe um pouco... - Deu um beijo no topo de sua cabeça e
depois saiu.
– Deixa
Ali, depois brincamos nós três por enquanto vamos ficar nós duas aqui... –
Peguei sua mão a acalmando.
– Ok... -
Falou tristonha.
– E agora
mamãe? Estou com fome, cadê minha comida? - Falei manhosa.
–
Calminha ai - Levantou as duas mãos em minha direção em sinal que eu esperasse.
- Vá lá brincar um pouco que jaja nossa janta estará pronta. - Falou em um tom
superior me fazendo morder o lábio segurando riso.
– Mamãe,
me conte como foi seu dia na escola... - Perguntei para ela enquanto me sentei
ao seu lado pegando uma boneca no colo para fingir que estava brincando.
– Foi
legal... - Suspirou. - Nós plantamos cenourinha, alface e outras coisas
na horta... E meu feijão no algodão estragou - Falou cabisbaixa. - Não sei o
que fiz de errado, dei aguinha pra ele, coloquei no sol mas mesmo assim
ele ficou com um cheiro ruim...
– Oh meu
amor, isso acontece, não foi culpa sua, juro que não foi.
– Tem
certeza?
– Tenho,
pequena! - A puxei para meus braços e arrumei seus cabelos para trás da orelha
e dei um beijo em sua bochecha. - Se você quiser podemos fazer outro agora
mesmo. O que acha?
– Você me
ajuda a cuidar dele?
– É claro
que eu ajudo! - Sorri. - Vamos fazer?
– Mas e o
papa que eu estou fazendo para você?
– Vamos
deixar ele aqui e quando voltarmos ele já vai estar pronto.
– Ok! -
Sorriu me dando a mãozinha.
Nos
levantamos e fomos até a cozinha. A deixei sentada no balcão e fui pegar um
pote de plástico de sobremesa para colocar o algodão e o feijão, depois tirei
dois grãos de feijão do saco e da caixa de primeiros socorros um pedaço de
algodão.
– Mamãe,
vou dar um nome para os meus feijões...
– E como
eles vão se chamar?
– Um vai
se chamar Nina e o outro Ian! - Sorriu delicada.
– Eles
vão ser o papai e a mamãe?
– Uhum! -
Sorriu. - É que você e o papai estão sempre juntos e meus feijões vão crescer
juntos também.
– Que
lindo, filha, seu pai vai adorar.
– Agora
só falta colocar um pouquinho de água... – Completou.
– Uma
gotinha só né?
– Duas -
Levantou dois dedos com um sorriso malandro.
– Ok! -
Sorri. - Agora colocamos aqui e amanha vemos!
– Isso,
agora vamos ver seu papa porque se não vai queimar e não da pra comer mais. -
Ergueu os braços em minha direção para que eu a pegasse.
A peguei
no colo e então fomos para a sala voltando a brincar.
– Oh
mamãe, tem que comer tudo! - Falou me entregando um prato de plástico lilás das
princesas e uma colher.
Brincamos
de fazer comida e com suas bonecas até que ela se sentou em meu colo e começou
a coçar os olhinhos. O relógio marcava nove e meia, exatamente o horário que
ela costumava a dormir.
– Mamãe,
quero um mama... - Falou manhosa.
– Mas já?
– Uhum...
– Então
vamos fazer assim, nós fazemos um mama, escovamos os dentes e vamos pro quarto,
o que acha, topa?
– Topo! -
Sorriu.
A peguei
no colo e ela abraçou meu pescoço deitando no meu ombro cansada. Fizemos sua
mamadeira e seguimos para o banheiro do seu quarto.
– Abre
bem a boca, bocão de jacaré ein! - Falei e ela me obedeceu abrindo bem a boca.
- Nossa mas quanto dente! - Segurei seu rosto escovando seus dentes de trás.
– Ta
ficando limpo ? – Perguntou de boca aberta.
– Esta
sim, bem limpinho. - Sorri. - Esta brilhando já!
– Oba! –
Respondeu do mesmo jeito.
Assim que
terminei seus dentes fomos para seu quarto e eu liguei um filme para ela
assistir. Me deitei com ela e sem demorar muito minha pequena adormeceu e eu
fui para o meu quarto onde Ian estava deitado na cama lendo um livro. Acho que
ele estava muito concertado na leitura ou realmente estava me evitando porque
foi como se eu nem tivesse entrado no quarto. Peguei meu pijama e ele nem se
quer olhou para mim, o clima era pesado como se nós tivéssemos brigado feio.
Soltei um
suspiro pesado mas mesmo assim ele não me olhou. Desisti de tentar chamar
atenção dele e fui para o banho demorando tempo necessário para que eu tomasse
coragem para enfrentar a fúria do meu marido enciumado.
Ian
estava na mesma posição que o encontrei, sem ter se movido praticamente nada.
Suspirei fundo novamente e me sentei ao seu lado, de leve toquei sua perna
tentando chamar sua atenção mas ele não me olhou.
– Ian,
olhe para mim, quero falar com você...
– Fale. -
Se ajeitou na cama e fechou o livro para olhar para mim.
– Você
esta bravo?
– Não
Nina, só estou triste... – Falou frio.
–
Desculpe amor, não sabia que ia ficar assim...
– Mas
como você quer que eu fique? Você preferiu ficar com um colega da faculdade do
que com a sua família, Nina!
– Não foi
isso, eu não preferi ficar com ele, foi só uma carona, Ian!
– Eu sei,
mas não gosto de ti andando com esses garotos...
– Como
assim? Você não pode me privar de ter amigos homens.
– Porque
tem que fazer questão de ser amiga dele?
– Ian,
pare de besteira, você sabe que eu não sou assim!
– Eu sei
e você é só minha! - Falou ainda bravo.
– Ian, eu
sei que sou sua, sempre fui e sempre vou ser. - Suspirei. - Eu nunca te dei
motivos para desconfiar desse jeito de mim, um voto de confiança é legal,
sabia?
– Eu
confio em você!
– Não é o
que esta parecendo. - Retruquei.
– É que
acaba comigo pensar que existe um cara que fica com você mais tempo do que eu,
acaba comigo lembrar que de tarde é ele do seu lado e não eu... - Com essa
confissão foi impossível não sorrir boba para ele, fiquei de joelhos na cama e
fui "andando" até ele.
– Olhe
para mim - Peguei seu rosto e entrelacei minhas mãos em sua nuca acariciando
seus cabelos. - Eu posso passar a semana inteira com ele mas você nunca sai do
meu pensamento, entendeu? - A expressão carrancuda de Ian se desmanchou e ele
me olhava serio com os olhos brilhando. - Eu posso passar o dia inteiro com
ele, mas é com você que eu divido a cama, é o seu nome gravado em minha aliança
de casada, se lembra?
– Não
faça mais isso, ok? Você sabe que eu morro de ciúmes de ti... - Agarrou minha
cintura com as duas mãos e me puxou ao encontro de seu corpo. Eu acabei com o
espaço entre nossos lábios selando um beijo leve e apaixonado.
– Não
faça mais isso você, ok? Você sabe que é o único para mim! – Falei o imitando.
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