sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Capítulo 41 - Cramps

Assim que descobri meu problema de pressão na semana seguinte comecei a fazer ioga e outras atividades para gestantes. Acho que estava adiantando porque as dores de cabeça que eu tinha o dia inteiro agora passaram a aparecer só de noite e um pouco mais fracas. Então me tranqüilizei em quanto a isso.

Eu e Ian já tínhamos encontrado a maternidade que eu ganharia Alice e agora só estávamos preparando os documentos e as malas com roupas e objetos que precisávamos levar no dia do parto.
Alice já tinha tudo o que precisava, cueros, paninhos de boca, bodies e provavelmente nem precisaríamos fazer chá de bebe. E quanto a mim... Bom, eu não tinha nada... Precisava comprar um robe, uma camisola de fácil acesso para amamentar, sutiã para amamentar e uma cinta modeladora ( para que o meu corpo voltasse ao normal mais rápido) ou seja, muito dinheiro e muitas compras.
A única coisa que era de extrema importância que eu não tinha e que não se vendia em lojas era minha certidão de nascimento. Esse documento era guardado pela minha mãe e com a confusão que tinha sido o dia que eu fui embora acabei me esquecendo de pegar.

– Amor... Temos um problema! - Chamei a atenção de Ian que lia uma revista ao meu lado na mesa.
– Mais um? - Me olhou e riu divertido. - O que houve? - Fechou a revista e a colocou pro lado.
– Minha certidão de nascimento...
– O que tem ela?
– Esta com a minha mãe...
– Uuh, e porque precisaremos dela?
– Para registrar Alice...
– E porque precisaremos dela? - Repetiu com um sorriso divertido.
– Porque é o único documento com os nomes dos meus pais... - Mostrei pra ele o tópico sobre registro de bebes que eu estava lendo.
– Uuh realmente ,temos um problema... - Leu rapidamente e voltou a olhar para mim. - E agora ?
– Estava pensando em passar lá depois da escola...
– Sozinha? Com aquela mulher louca prestes a pular na sua jugular? - Ian riu sem graça. - Nunca! - Respondeu. - Você me espera chegar que nós vamos lá!
– Ian, não sei se é uma boa idéia... Você sabe como eles não te suportam!
– Não estou nem ai, não vou deixar vocês correrem perigo... - Falou calmo. Ele tinha razão, eu não iria me expor desse jeito principalmente quando o assunto era a inconstante de Michaela.
– Ok, você tem razão. O que acha de eu ligar para lá e torcer para que um dos empregados atenda? E então eu peço para eles separarem minha certidão que eu vou pegar... Sem envolver ela ou meu pai.
– Acho ótimo, mas eu vou com você para garantir que tudo fique bem... - Acariciou minha bochecha.
– Te amo - Sorri pegando sua mão e dando um beijo nela. - Agra vou ligar para eles. - o puxei para um beijo calmo.

Era como se a sorte estivesse pela primeira vez ao meu lado... Quem me atendeu foi a empregada que ficava lá duas vezes por semana e ainda era a que eu me dava bem.
Consegui fazer tudo conforme eu esperava, agora só faltava eu chegar do colégio e ir pegar meu documento rezando para não encontrar o monstro.
Terminei de me arrumar e Ian foi me levar para a escola para depois ir ao trabalho.

– Pronto, estão entregues... - Sorriu de canto para mim. - Boa aula para vocês, amo muito as duas! - Me beijou.
– Obrigada papai - Fiz voz de criança e roubei um selinho dele. Sai do carro e Ian deu partida no carro, assim que eu comecei a andar em direção a escola senti Alice se espreguiçar. Dessa vez ela mexeu diferente, parecia que ela tinha dado uma cambalhota e então uma pressão lá em baixo e dor muita dor... Me curvei levemente e coloquei minha mão sobre meu ventre como se o protegesse.
– Nina! - Candicce gritou atrás de mim. - Hey Nina, o que foi?
– Eu não sei, ela só mexeu muito forte e agora esta doendo... - Retomei fôlego e voltei a ficar na posição normal.
– Quer que eu ligue para Ian? Te leve para o hospital? - ela perguntou preocupada.
– Não, não precisa... Esta tudo bem, já vai passar! - Coloquei uma mão em minhas costas arqueando a barriga.
– Nina... - Candicce me repreendeu.
– É serio candy, não precisa ligar, eu já estou melhor sem falar que Ian precisa trabalhar... - Menti. Ainda doía bastante e agora era uma cólica. Sim, cólica mesmo...
– Por favor Nina, me avise se algo estiver errado.
– Pode deixar...

Passei a manha inteira com dor, sentia minha barriga ficar dura e Alice mexia diferente. Aquela pressão lá em baixo ainda continuava, mas o que realmente não me preocupava era que por mais que eu estivesse com dor ela ainda mexia e muito... Se tudo não estivesse bem, ela estaria quieta, não é mesmo?

Depois da aula voltei para casa e ao invés de estudar as matérias fiquei apenas deitada em repouso. Seja lá o que fosse, se eu ficasse deitada não iria atrapalhar... E para ser sincera eu estava com muito sono e preguiça de estudar então nem relei em minha mochila.

...

– Amor, esta tudo bem? - Ian chegou na porta do quarto. - Não te achei na sala, fiquei preocupado.
– Esta tudo bem, só estou com uma cólica estranha... - Falei dando de ombros.
– Cólica? - Chegou perto de mim se sentando ao meu lado na cama. Eu assenti e me virei pra ele.
– Ela mexeu diferente hoje, passei o dia com essa dor estranha.
– E porque não ligou para mim? Onde esta o telefone da doutora? - Me olhou serio levantando da cama.
– Não, não precisa, nós estamos bem.
– E como você sabe disso?
– Porque ela esta mexendo, só agora que se aquietou um pouco...
– Nina, você viu o que a doutora disse... - Me repreendeu.
– Amor nós estamos bem! Se algo acontecer eu ligo, juro!
– Nina...
– Ian, tirando a cólica estou bem, te juro! - Peguei sua mão e entrelacei nossos dedos. - Se acalme, amor!
– Tudo bem pequena - Se deu por vencido. - vou fazer alguma coisa para comermos, o que quer?
– Que tal pensarmos nisso no caminho de volta da casa dos meus pais?
– Negativo! - Negou. - Não vou te expor a isso principalmente quando não esta bem agora, imagina depois de ver seus pais!
– Amor, serio, precisamos pegar esse documento o quanto antes. Confie em mim, tudo ficara bem...
– Nina, melhor não.... Amanha se estiver melhor, o que acha?
– Ian, já falei com Luzia... Por favor, vamos lá! - Me sentei esperando ele falar alguma coisa. - Por favor, amor...
– Nina...
– Ian... - Fiz beicinho. Para que tardar algo que eu poderia fazer agora? Sinceramente não via o porque disso. - Quanto antes eu pegar a certidão, melhor!
– Maldito biquinho... - Me puxou para ele. - Vamos, mas quero que seja rápido porque eu não quero desgastar as minhas duas mulheres... - Sorriu me beijando avidamente.
–Ótimo porque nenhuma delas esta afim de aturar a maníaca da michela por muito tempo também. - Ri entre seus lábios.

Ainda relutante,Ian me levou até minha antiga casa o mais de vagar que o carro permitia tentando me convencer de voltarmos para casa.

Aquele caminho me dava arrepios de agonia no corpo. Milhares de lembranças corroíam minha mente e sentimentos brotavam em meu peito. Por alguns segundos tive vontade de pedir para Ian dar meia volta para voltarmos para nossa casa e pedir para Luzia me entregar a certidão quando ela estivesse de folga... Mas algo me dizia que eu precisava ir até aquela casa e além do mais eu não poderia ser sempre covarde e evitar minha "família".

Assim que chegamos eu e Ian tivemos mais uma discussão, ele queria me acompanhar mas eu insisti que ele ficasse no carro. Depois eu sai e bati a campainha e por pura sorte Luzia me atendeu.

– Oh menina, olhe só para você! - Ela sorriu para mim e me abraçou forte. Esta tão linda com esse barrigão! - Acariciou meu ventre. Luzia usava um uniforme sofisticado, tipo aqueles de filme mesmo. Só me faltava essa... Michaela obrigando os empregados a usar uniforme.
– Obrigada tia Luzia! - Sorri em resposta.
– E como vocês estão? E você e o pai da criança?
– Estamos bem, super bem. E ele esta comigo, esta ali no carro - Apontei para o carro preto estacionado em frente a casa.
– Que bom que vocês estão bem, sabe que seu nome é o mais dito aqui nessa casa... - Obvio, deveriam estar fazendo meu cadáver naquele lugar, não queria nem imaginar os nomes que Michaela me chamava.
– Aé?
– Uhum, é Nina para cá, Nina para lá... Seu pai parece estar com saudades de você. - ok, essa era nova. Meu pai demonstrando algum tipo de afeto? Há há há.
– Tarde demais para ele lembrar da minha existência, não concorda? Principalmente agora que já fui tachada de vadia pela minha própria família...
– Hey menina os de uma chance.
– Espera ai, ouvi bem? Luzia o que eles fizeram para mim não tem perdão. Além do mais eu vou embora dessa cidade assim que Alice tiver idade o suficiente. Não agüento ter que de andar nas ruas e ter medo de encontrar Michaela e ter que ir dormir com os insultos dela! - Desabafei. Não adiantava eu fingir que não ligava para os xingamentos quando na verdade eles pareciam agulhas em meus tímpanos. Comecei a tremer de nervoso e vi que era hora de pegar logo o que precisava. -Vamos logo Luzia, não quero que eles me vejam aqui.
– Venha, vamos lá ao meu quartinho...
– Não, melhor não, vou esperar aqui e você me trás.
– Não, vamos lá! Bem rápido!
– Luzia... - A repreendi.
– Vamos lá! - Me puxou pela mão. Resisti e entrei pelo portão com ela. - Eles estão lá em cima se arrumando, vão receber visita para janta.
– isso explica seu uniforme... - falei
– Ah... Exigência de dona Michaela. Já viu né!
Realmente minha mãe não estava em seu juízo perfeito e eu também não sabia se me preocupava ou não.
– Ótimo mais um motivo para eu não demorar. Vamos logo... - Luzia me guiou até seu quarto e assim que chegamos me entregou uma caixa não muito pesada. - Luzia, eu só quero minha certidão.
– Não menina, ai tem algumas fotos suas de quando bebe, acredito que você as queira.. Sua mãe me pediu para jogá-las fora mas eu não tive coragem.. Ah, e ai também tem uma lembrança minha para seu neném, não sabia se era menina ou menino então comprei branco mesmo.
– Não precisava se preocupar Luzia...
– Eu insisto!
– Muito obrigada viu, não sei nem como agradecer! - Sorri e a abracei. - Agra vamos antes que a fúria se desperte... - A puxei pela mão e assim seguimos para a sala.
Não posso mentir, sentia falta daquela casa, muita falta mesmo... Mas tudo que eu estava vivendo com Ian compensava esse meu lado materialista.
– Luzia, o jantar já esta pronto? - A voz de michaela vinda das escadas fez meu corpo inteiro gelar.
– Oh dona Michaela, já esta quase pronto, mais uns vinte minutos e tudo ficara bom.
– Nossa mas eu viro as costas e você trás a mendigagem para dentro da casa! - falou grossa e eu apenas Ignorei seu comentário direto e me virei de costas para ela.
– obrigada mesmo Luzia... - Falei baixinho ignorando a presença de minha mãe .
– Ah não vai querer ficar para jantar? - Michaela perguntou irônica. - Vamos receber uma visita que você adora... - Parou um segundo e mudou o tom de voz.- Ah, mas melhor não porque se não você vai estragar o nome da família com essa barriga! - Contei mentalmente até dez e só pensei em Alice... Meu estresse não iria fazer bem para ela.
– Qualquer coisa só me ligar menina, estarei aqui... - Luzia falou enquanto eu seguia para a porta da frente.
Assim que eu toquei na maçaneta a campainha tocou e eu dei de cara com quem eu vinha evitando a tempos... Torrey e ao seu lado seus pais...

Meus pais eram amigos dos devitto, na verdade, essa relação era puro interesse econômico, era algo que eu não entendia muito bem e também não fazia questão de entender, mas aquilo não era uma amizade sincera. Agora tudo fazia sentido... Torrey por dentro de tudo que acontecia na minha vida.
– Nossa mas esse é o ultimo lugar que eu esperaria te encontrar, Dobrev... - Torrey sibilou.
– nossa, acho bom você se proteger porque aqui não tem a hierarquia que é nossa escola e não tem um diretor para passar a mão em sua cabeça ...
– então vai me agredir de novo?
– Não sujo minha mais minhas mãos com vadia... Agora se me dão licença, boa janta...
– Ah, mande um abraço para o veterinário do meu gatinho... Ou deveria dizer, o gatinho do veterinário? Ah tanto faz, os dois jeitos são certos - Riu.

Sem pensar duas vezes sai daquela casa sentindo minha cabeça explodir de ódio...
Entrei no carro e evitei o olhar de Ian já sabendo o que ele ia falar...
– Só vamos embora... - Suspirei. - Eu sei que você vai falar que me avisou... Que eu não deveria ter vindo e que... E que - Me embaralhei nas palavras.- Mas é que eu precisava disso... - Suspirei. - Agora nada mais me prende nesse lugar... - Falei decidida.
– Ótimo, agora respire fundo, conte até dez e se acalme que nós estamos indo para nossa casa, ok? - Ian pegou meu rosto delicadamente e eu me concentrei em seus olhos na serenidade que eles me passavam e aos poucos fui me acalmando . - Pronto amor, pronto! Esquece tudo, ok? Eles não existem, ninguém mais do seu passado existe. Agora sou eu, você e Alice! Se acalme e me conte o que aconteceu.
– Te amo... - Sussurrei. - Muito...

O caminho inteiro desabafei com ele, relembrei minha briga na escola e todos os detalhes da história. Ian não falou nada, só escutou e quando terminei assim que chegamos em casa ele me puxou para seus braços em um abraço forte.
Era exatamente aquilo que eu precisava... De seus braços em minha volta, daquele cheiro gostoso que eu sentia quando o abraçava e afundava minha cabeça em seu pescoço e de suas palavras doces falando que ele seria sempre meu.

Quando entramos em casa Ian foi tonar banho e aproveitou esse tempo para me deixar sozinha...
Sentada em nossa cama olhei as fotos que Luzia tinha separado. Fotos minhas, fotos minhas com Candicce de quando éramos criança, fotos minhas com eles... Algumas eu fiz questão de rasgar e depois botar fogo enquanto outras eram lembranças de viagens, minhas primeiras aulas de ballet, minha primeira janelinha...
Doía tanto ver como tudo tinha acabado. Doía tanto em pensar que eu não tinha mais um pai e uma mãe... Principalmente nessa fase da minha vida... Mas em fim, nada era para senpre e eu precisava saber lidar com isso.

Infelizmente as lagrimas em meus olhos se formaram e quando percebi elas jorravam como duas cascatas de minha face.
– Oh princesa, juro que vou se a melhor mãe do mundo para você... - Acariciei onde tinha acabado de ganhar um chute. - Te amo muito, ok? Te amo mesmo com você me chutando a barriga e ter me dado um enjôo insuportável por três meses... - Ri secando as lagrimas.
– Que momento mais lindo... - Ian se deitou ao meu lado. - esta chorando porque?
– fotos, fotos e mais fotos... - Passei a mão pelas minhas bochechas as secando. - Pronto, isso tudo é passado, não preciso mais dessas... - O entreguei as que havia selecionado e o resto rasguei em mil pedacinhos.
– não vai se arrepender depois? - Levantou e pegou a lixeira do nosso quarto.
– Nem um pouco, acredite! - Joguei fora os picotes. - Uma tonelada saiu das minhas costas hoje...
– Como você esta? - me puxou pra ele. - Passou a dor?
– Tinha até me esquecido dela... - Cerrei o cenho. - Ela esta aqui ainda... Ta fraca mas aqui.. -Dei de ombros.
– Vamos ligar para medica, por favor... Só para ficarmos tranqüilos... - Insistiu. Suspirei derrotada e me virei para pegar o celular.

Ian ficou satisfeito enquanto eu falava com ela ao telefone. E ficou mais satisfeito ainda quando ela me deu a resposta de que não era nada. Falei a forma diferente que ela estava mexendo, caracterizei a pressão que sentia e a cólica também, e com isso nem precisei sair de casa para o hospital. Segundo a ela, Alice tinha apenas virado, mudado de posição, e agora estava encaixada e por ela ter virado tão bruscamente me fez ter cólica pelo impacto na parede do meu útero.
– Temos uma menininha virada de cabeça pra baixo agora - Falei voltando a me sentar ao seu lado. - Viu, falei que tudo estava bem - Sorri.
– Que bom que estão bem - Acariciou meu rosto.
– Viu papai, estou bem aqui... - Fiz voz de criança. - Só estou fazendo estripulia na barriga da mamãe.
– Estou vendo que vai ser teimosa como sua mãe... - Se deitou em minhas pernas e conversou com Alice. - Papai vai ter muita dor de cabeça.
– Mamãe não é teimosa e nós estamos com fome. Venha nos alimentar!- Continuei com a voz de criança.
– Mas que judiação, um erro imperdoável deixar a duas com fome! - Riu me puxando.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não saía sem comentar (: