Capítulo 31 - About my past

Assim que chegamos em casa, Dona Edna fez a melhor receita de macarrão a bolonhesa para nós comermos, eu e Ian não tínhamos nada no estomago a não ser café preto desde o dia que nossa filha havia sumido então não era para menos que assim que a encontrássemos iríamos estar famintos. Alice foi bajulada por toda a família e assim que passou de colo em colo atacou com um prato de macarrão, não tão grande como ela descreveu no carro mas um pouco maior em parâmetros do que ela era acostumada a comer, por isso estranhei o fato de ela ter comido tudo o que havia pedido para eu servir e ainda comer um pedaço de bolo de chocolate com sorvete.

Depois do almoço esperei um tempo eu e Ian demos um banho demorado e relaxante de banheira nela e fomos para o quarto. Alie já estava abatida de sono e começou a ficar manhosa mas assim que a deitamos na cama ela apenas virou para o lado e dormiu sem nem pedir mamadeira ou a televisão para dormir. Eu e Ian estávamos exaustos e aproveitamos esse tempo que ela dormiu para não só descansar junto com ela como também para curti-la.

A coloquei no centro de modo que ela ficasse entre mim e Ian. Nós dois ficamos apenas a observando dormir como fazíamos quando ela era recém nascida, só que dessa vez nós a contemplávamos por estarmos felizes de ela estar novamente em nossos braços. Alie era nossa maior alegria e não saberíamos o que fazer se algo acontecesse com a nossa pequena.

...

- Nina... – Ouvi uma voz lá longe me chamando. – Nins... – O dono da voz tocou meu braço para me acordar. – Amor... – A voz foi ficando mais clara e eu já estava consciente. Suspirei pesadamente e abri meus olhos. – Duas coisas pequena... – Ele sorriu de canto para mim. – Primeira, Alie está segura aqui conosco, não precisa segurá-la assim enquanto dorme... – Só então me dei conta de que segurava Alice com força contra meu peito, como se a protegesse e impedisse de que alguém a roubasse novamente de mim. Assenti um tanto atordoada e a coloquei na cama com a cabeça em um travesseiro, instantaneamente ela se espreguiçou e virou de ladinho abraçando seu urso. – Isso... – Soltou um riso e eu me sentei na cama, ajeitando meus cabelos. – Segunda. – Suspirou. – Seu pai está lá em baixo, quer te ver. – Eu assenti e virei a cabeça para olhar o relógio, ele marcava quatro e quarenta da tarde mostrando que havia dormido um pouco mais de duas horas.

- Fale para ele que eu já estou descendo... – Disse ainda sonolenta. Ele assentiu e voltou para a sala.

Me levantei e fui até o banheiro, escovei meus dentes, prendi meu cabelo e demorei mais alguns longos minutos para descer. Não sei se estava disposta em saber o que Alexander queria comigo, sabia que era alguma coisa com Michaela e acho que não estava pronta para receber uma noticia de que ela não iria ficar presa. Quando finalmente me dei por vencida, fui até a sala e encontrei apenas meu pai no local, olhei para trás e a porta que ia para os fundos da casa estava fechada, logo conclui de que eles estivessem nos dando privacidade para conversar...

- Hey Nins. – Alexander sorriu ao me ver e veio me dar um beijo.

- E então... – Perguntei meio sem jeito. – Noticias sobre Michaela?

- Poucas. – Deu de ombros um tanto nervoso. – Ela vai para um manicômio judiciário, lá ela vai receber tratamento psiquiátrico mas ainda vai ser mantida como um presidiário qualquer. Ontem eu estive um tempo lá com ela, mas logo tiveram que ceda-la... – Falou cabisbaixo. – Ela ficou muito agitada e só chamava por você, não queria nem me ver pintado de ouro lapidado de diamantes em sua frente. – Soltou um riso fraco. – Mas ela vai ficar bem, vai sobreviver a esses três anos naquele lugar... – Suspirou convencido. – Bom, mas não foi por isso que eu vim aqui.

- Se não é para falar de Michaela, então... – Olhei desconfiada.

- Nina... Tem uma coisa que nós nunca te contamos.... – Falou hesitante.

- Está me assustando! – O olhei desconfiada.

- Eu vou direto ao ponto porque não tem como enrolar muito...

- Por favor! – Completei.

- Nina, Michaela não é sua mãe. – Aquilo foi como um balde de água gelada em mim. Minhas pernas falharam e eu acabei caindo no sofá atrás de mim. O silencio reinou entre nós dois e eu precisei de um tempo para digerir tudo aquilo.

- Eu fui adotada? – Sussurrei em choque.

- Não necessariamente... – Pensou. – Não sei se você se lembra ou se Michaela já te falou sobre uma irmã dela que se chamava Juliet. – Neguei. – Ela era sete anos mais nova que Michaela e tinha apenas dezessete anos quando engravidou de ti, apesar de seu pai ter te aceitado, sua sua avó a expulsou de casa.... – Suspirou. – Sua mãe desesperada pediu para que eu e Michaela ficássemos com você por um mês no máximo porque ela e seu pai iriam se mudar de cidade e precisavam de tempo para se estabilizar no novo lugar. – Explicou. – Sem pensar duas vezes eu e Michaela te acolhemos e seus pais foram para esse tal lugar. Não foi necessário muito tempo para que eles conseguissem um emprego e com as economias dos dois deu para comprar uma boa casa, então logo eles estavam de volta. – Sorriu com a lembrança. – Você ficou exatas três semanas com a gente, mas foi o suficiente para que nós nos apaixonássemos por ti. Nina, você era o neném mais bonzinho que nós já havíamos visto, dormia o dia inteiro e só chorava de noite com cólica por causa do leite que era muito forte para você, fora isso... Sem falar que era a coisa mais linda que já havíamos visto, completamente babávamos em cima de ti. – Deu de ombros. – Então as três semanas se passaram e sua mãe nos ligou avisando que estava vindo para te buscar... – Ficou sério de repente. – Eu e Michaela ficamos tão apegados a ti que nós “fugimos” – Fez aspas com os dedos e eu fiquei ainda mais chocada. – De Nova Orleans viemos para Malibu onde te registramos como nossa filha mesmo, já que Juliet e seu pai nem se quer se lembraram de ter feito isso. Os anos passaram e nós não sabemos se eles procuraram por você, nunca nos chegou noticias de que um casal estava a procura da filha perdida, então ficamos tranquilos contigo... – Fez uma breve pausa e logo continuou. – Michaela nunca quis ter outro filho e eu respeitei essa decisão dela... -  Quando eu pensei que minha vida fosse se acalmar pelo menos um pouco, Alexander me vem com isso...

Não sei se eu sentia raiva, tristeza ou alivio. Raiva por eles não terem me contado tudo isso antes e por terem mentido para mim, tristeza porque eu não tinha nem pai e nem mãe mas agora era de verdade isso e alivio por saber que Michaela não era minha mãe de verdade... Sabe o que é você se sentir completamente perdida?

- Porque? – Sussurrei em meio a lagrimas. – Porque não me contaram?

- Nós iríamos te contar, mas... – Tentou falar mas eu o cortei.

- Ah, claro que iriam, mas quando? Quando eu precisasse de uma transfusão de sangue ou sei lá, deixariam para me contar do outro lado quando nos encontrássemos depois de termos morrido... – Falei ofendida. – Vocês não sabem o quanto eu fico aliviada em saber que não sou filha de vocês. – Grunhi. – Vocês dois se merecem, são dois loucos sequestradores! – Falei furiosa. - Tem mais alguma coisa que quer me contar para aproveitar o momento? Não, sei, talvez que minha mãe tenha morrido e por isso vocês nunca me disseram dela ou que meu pai era usuário de drogas na adolescência ou um traficante ... Sabe, pode falar, eu aguento! – Debochei. – Por favor, só me explique todos os fatos de minha vida, aquela senhorinha simpática que eu chamava de vovó, ou então as historias de quando Michaela estava grávida de mim...

- Por favor Nina, tudo foi uma grande mentira, as historias de gravidez era a única parte verdadeira só que aconteceram com sua mãe de verdade e não com Michaela. Já sua avó era apenas uma senhora, Nina, nada sua... – Explicou.

- Tudo pensado... – Continuei chocada. – Não me diga que até meu nome mudaram... – Ri debochada.

- Não... Seu nome era para ser Nina mesmo...

- Uffa ein! – Continuei com o deboche.

- Eu sei que seu perdão é a ultima coisa que vou conseguir na vida, acho que você deveria saber disso, Michaela vai surtar novamente quando descobrir que eu te contei a verdade.  – Veio até mim. – Eu sinto muito Nina, muito mesmo, se soubesse que seria assim teria feito tudo diferente... – Suspirou e me deu um beijo demorado na testa. – Sei que você vai querer procurá-la então o nome dela é Juliet Constantinova, não sei se casou com seu pai então procure pelo o nome de solteira mesmo... – Eu não conseguia falar nada, acho que estava entrando em um estado de choque. Era muita informação para um dia.

- Por favor, me deixe sozinha. – Solucei. – Eu preciso organizar tudo isso... – Por favor, não me procure mais. – O afastei. Ele suspirou e se afastou, depois só ouvi a porta ranger e depois bater, só então deixei que por mais um dia eu chorasse desesperadamente.

Agora tudo se encaixava. O porquê de Michaela nunca me falar de minha avó, digo, nunca falaram, ou porque não tinha o “Constantinova” de Michaela em meu nome porque seria muito mais fácil de me acharem, também explicava o fato de minha “mãe” não ter nenhuma foto grávida, de ela não socializar muito com os outros e também por ela ter ficado tão irritada ao descobrir minha gravidez na adolescencia.  Céus, minha vida inteira foi uma mentira, uma bela de uma mentira!

- Amor... O que houve? – Ian apareceu na sala e me acolheu em seus braços.

- Por favor, vamos embora desse lugar! – Escondi meu rosto em seu ombro e chorei baixinho.