Meu corpo
inteiro tremia de nervosismo e eu controlava as lágrimas que ardiam meus olhos,
eu jurei que nunca mais iria chorar por ela principalmente em sua frente.
Michaela olhava para minha filha de uma forma carinhosa demais para o meu
gosto, a olhava de uma forma que ela costumava a me olhar quando eu era
criança, quando eu ainda não tinha começado a dar problemas pra ela, seus olhos
estavam cheios de lagrimas e eu nao entendia o porque, depois das coisas
horríveis que ela havia me dito quando eu estava grávida eu só esperava que ela
odiasse Alice e não que quisesse se aproximar dela. Michaela estava ficando
louca, só podia.
Eu sabia
que nessas semanas que eu ficasse em Malibu iria acabar a encontrando, mas não
esperava que fosse tão cedo e que fosse na praia. Minha mãe odiava a areia e o
mar e uma de nossas maiores brigas quando eu era criança e não podia sair
sozinha era que eu queria ir a praia mas ela não me levava. Realmente a vida
dela tinha mudado muito depois que eu fui embora...
O ódio
que eu sentia por Michaela era imensurável, chegava até a doer em mim essa
raiva toda que eu sentia por ela. Eu me sentia muito mal por sentir tamanha
repulsa pela pessoa que havia me posto no mundo, mas era algo que não podia
evitar, era mais que eu. A única coisa que eu queria dela era distancia, queria
que ela ficasse longe de minha família. Ela não poderia causar mais dor em mim
do que já havia causado. Um dos meus piores defeitos era ser muito orgulhosa e
guardar magoa dos outros, então só iria perdoá-la caso ela estivesse realmente
arrependida ou que ela me implorasse por perdão... Ou então nem assim.
Depois da
praia fomos para casa onde minha sogra estava. Chegamos na hora do almoço e eu
ajudei Ali a comer e depois lavei a louça só para tentar não pensar sobre o
ocorrido da manha, o que estava sendo impossível porque eu tinha me desligado
da conversa em minha volta e meu passado corria pela minha mente como um filme
sem pause, Dona Edna, Robin, Clarisse, Ali e Ian tentavam puxar assunto mas eu
estava fora do ar, não tinha concentração para focar no assunto deles. Era
horrível relembrar tudo aquilo, principalmente porque eu já tinha passado anos
sem nem me importar com o assunto e agora que ele voltou, estava ainda pior que
antes.
Depois de
ter arrumado a cozinha fui brincar com Alice e Clarisse na sala mas Ali tinha
dormido e Clarisse e seus pais foram tomar sorvete no calçadão. Ali dormia
tranquilamente no enorme sofá da sala só de calcinha pelo calor e sem aguentar
de saudades dela, a peguei em meu colo para ela dormisse comigo. Aconcheguei
seu pequeno corpinho em meus braços a segurando com força contra mim. Um lado
extremamente protetor voltou para mim, um lado que eu não lembrava que tinha
desde quando tinha ido embora e quando Michaela me falou que queria tirar minha
filha de mim.
Passei as
mãos nos cabelos escuros e molhados de suor de Alice os afastando de seu rosto
e de suas costas e logo ela voltou a dormir tranquila.
– Oi
minhas vidas! – Ian falou se sentando ao meu lado e me puxando junto com Alice
para seus braços.
– Oi
amor! – Sorri para ele e deitei em seu ombro.
– Como
está dormindo essa baixinha... – Riu acariciando o cabelo dela.
– Deve
ser o calor!
– Queria
tanto que ela tivesse aproveitado a praia...
– Eu
também, podemos ir amanha só que para outro lado, o que acha? – Sugeri e ele
assentiu. Ficamos um tempo só contemplando o sono tranquilo de Alice e quase
nos entregando assim como ela.
– Como
você está, pequena? – Ian falou após longos minutos em silencio.
– Vou
sobreviver... – Suspirei. Não adiantava eu falar que estava bem porque estaria
mentindo, eu não estava bem, nada bem...
–
Desculpe por ter te feito vir para cá meu amor... – Acariciou meus cabelos
enquanto eu descansava minha cabeça em seu ombro.
– Tudo
bem, vai passar! – O tranquilizei. – Mais cedo ou mais tarde eu iria
encontrá-la, não posso evitar de vir no lugar em que nasci por causa dela.
– Eu sei
mas estou me sentindo culpado...
– Hey
hey, não vamos mais pensar nisso, ok? – Entrelacei os nossos dedos. –
Aconteceu, não podemos fazer nada, foi inevitável e eu estou me preparando para
encontrá-la mais vezes até irmos embora...
– Vai
ficar bem?
– Vou
sobreviver, o mais difícil já passou!
– Já sabe
o que vai fazer em relação a eles? – Ótima pergunta... Não fazia menor ideia.
Inúmeras coisas já haviam passado pela minha cabeça, já havia pensado em pular
no pescoço daquela mulher, bater nela com toda a minha força ou então
ignorá-la, fingir que não havia a visto... Estava confusa demais.
–
Improvisar... – Ri dando de ombros.
– Vamos
levá-la para cama?
– Queria
ficar com ela no meu colo... – A apertei em meus braços.
– Mas
podemos deitar junto com ela. Ali está desconfortável amor, sem falar que está
muito calor... – Explicou. – Amor, nada vai acontecer com ela... – Me
tranquilizou. – Ninguém vai encostar em nossa pequena, eu juro para você, ela
está segura com nós!
– Eu sei
Ian, mas tenho medo...
– Seria
estranho não estar, mas Michaela não teria coragem de fazer nada com a neta! –
Me tranquilizou.- Hey, porque não vai dar uma volta pela praia, você adora não
é mesmo? Tome um suco, sinta a brisa do mar... Se quiser vou contigo. –
Sugeriu. Ian tinha razão, iria me fazer bem mesmo... Fazia muito tempo que eu
não ia à praia mas eu tinha medo de deixar Alice. Paranoica, eu sei, mas era
mais forte que eu.
– Você
cuida dela? – Suspirei.
– Claro
que sim não vou desgrudar dela um segundo!
– Vai lá
pequena, nossa princesa vai ficar bem, eu prometo! – Eu assenti e me levantei com
ela no colo e então a levei para o quarto que estava livre na casa. – Vá
tranquila, ok? – Ian pegou meu rosto assim que coloquei Alice na cama.
– Cuide
bem dela, ok ?
– Assim
você me ofende amor! – Sorriu. Ian era um ótimo pai, talvez o melhor pai que eu
já havia visto em minha vida inteira. – Hey, podemos levá-la hoje para casa com
a gente... Podemos alugar filmes que ela gosta, comprar comida gostosa para nós
três, passar a noite na piscina com ela já que está bem calor... Um programa em
família, o que acha? – Pegou meu rosto delicadamente e colocou uma mexa de
cabelo para trás de minha orelha.
– Acho
perfeito! – Sorri abertamente. – Mas antes disso temos que arrumar a bagunça
que está aquela casa! –Ri alto ao lembrar as condições que deixamos nosso ninho
de amor.
– Damos
um jeito, não se preocupe! – Me deu um selinho demorado. – Te amo, ok? – Eu
sorri e o puxei para mais um beijo.
– Eu vou
mas não demoro, ok?
– Tudo
bem, estarei dormindo aqui com ela, bem abraçado nela como você estava... –
Sorriu.
– Obrigada!
– Sorri e o roubei mais um beijo dele.
Sem
demorar mais eu saí de casa e fui em direção à praia. Conhecia aquele lugar
como a palma de minhas mãos, era tudo tão lindo, tão arrumado... Tanta coisa
tinha mudado enquanto eu estava fora... Aquela cidade me trazia tantas
lembranças, boas, ruins... Era uma explosão de sentimentos, uma confusão. Não
sabia se ficava feliz ou triste.
A
pizzaria que eu adorava e onde foi meu primeiro encontro com Ian, os bares que
eu ia escondido de minha mãe com Candice, a praia onde eu exibia minha enorme
barriga de grávida com Ian ou onde admirava os caras bonitos na minha época de
solteira. Meu deus, meu colégio, vulgo inferno... Desse lugar eu
definitivamente não sentia saudades. Ah minha querida Malibu.
Tirei
meus chinelos e ajeitei o chapéu que tinha pego de Ian e fui para a areia andar
descalço. Estava insuportavelmente quente mas tinha um vento forte que deixava
o clima mais fresco. A praia estava um tanto vazia pelo horário e eu agradeci
porque pelo menos assim não iria encontrar mais ninguém indesejado.
Caminhei
pela areia, molhei meus pés na água gelada, andei mais um pouco, me sentei na
areia...
Aah
aquela praia... Quantas vezes eu e Ian nos amamos ali mesmo? Que saudades
daquela época de recém-casal. De quando eu passava todas minhas sextas-feiras
na casa de Ian e só voltava no domingo...
Ao
perceber que minhas lembranças estavam ficando obscuras, tratei de me levantar
e fui para um quiosque que vendia sucos e sorvetes na beira da praia. Como
sempre o lugar estava vazio a não ser por uma senhora que estava sentada de
costas para a porta de entrada.
Ow merda,
merda, merda, merda, mil vezes merda.
Sabem
aquelas historias de que onça não ataca duas vezes no mesmo dia? Pois é, isso é
mentira. E ali estava eu, no mesmo lugar e com o monstro de Michaela junto.
Pensei em dar meia volta e fingir que não tinha a visto, mas por mais que eu
pudesse fingir, ela havia percebido minha presença e agora estava vindo em
minha direção.
– Nina,
sabia que iria vir aqui!
– Então
você estava me esperando aqui? – Ri mal humorada. – Ah, melhor, você está me
seguindo!
– Nina,
nós temos que conversar! – Insistiu
– Eu não
acho que precisemos. – Relutei. – Você não quis conversar comigo quando viu
minha barriga, logo me jogou para fora de casa como um cachorro sarnento.
– Me
entenda Nina, eu não fiz consciente.
– Ah
claro, então achou que o mais sensato a se fazer era me deserdar! – Falei
tentando controlar minhas lagrimas. – Eu só precisava do seu apoio, de seu
carinho mas em troca eu ganhei desprezo, ingratidão!
– Nina,
eu queria colocar os pingos nos is, precisamos nos entender filha. – Não,
sério? Filha? Ela só poderia estar brincando...
–
Sinceramente mulher, vai se tratar, você é doente! – Grunhi. – Eu acho que você
precisa ficar longe de minha família, de mim e de todos que eu amo!
– Por
favor Nina, eu estou arrependida, acredite em mim.
– E
acredite em mim quando eu falo que quero você longe, eu não quero que você nem
chegue a pensar em minha filha. Você nunca vai vê-la, ela nunca vai saber que
tem uma avó materna e para você, eu morri, Michaela, entendeu? Eu morri! Me
esquece, esquece Alice, esquece Ian... Esquece que um dia você teve uma filha,
ok?
– Nina
você está sendo precipitada, vamos conversar como duas adultas...
– Ah sim,
eu sou a precipitada... Falou a mulher que pensou muitas vezes antes de me
expulsar de casa quando eu mais precisei!
– Já
falei que eu estou arrependida! – Se defendeu.
– Ótimo,
então guarde esse arrependimento para você porque eu não caio nessa!
– Me
deixe ao menos vê-la uma vez, uma vez só!
– Não!
Você não entendeu que eu não te quero perto de minha filha? – Gritei.
– Algum
problema aqui, senhora? – Um atendente do local veio até nós e segurou meu
braço. Só então percebi que eu estava aos berros com Michaela e que estávamos
espantando os poucos clientes da tarde.
–
Desculpe, está tudo certo. – Falei sem olhar para ele apenas fuzilando Michaela
com o olhar. – Entendeu? Eu morri, Michaela, morri! – Essas foram minhas
ultimas palavras.
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