A casa
estava silenciosa e o carro de minha sogra não estava na garagem. Agradeci por
não ter ninguém em casa para presenciar minha situação humilhante, não queria
falar sobre o assunto com alguém que não fosse Ian.
Sem fazer
barulho eu subi para o quarto onde havia colocado Alice mais cedo e encontrei
ela e Ian dormido abraçados de conchinha. Aquela agonia que eu estava sentindo
foi substituída por um alivio e felicidade. Chegar em casa e os vê-lo assim me
tranquilizou de uma maneira absurda, porque por mais que eu não tivesse mais
uma mãe e um pai, eu tinha uma filha e um marido que independente de qualquer
coisa eles estariam comigo, principalmente Alice. Eu amava aqueles dois, amava
mais que tudo, mais que todos e mais do que alguém pudesse imaginar. Eles eram
minha vida inteira, meus pontos de paz.
Eles
dormiam profundamente juntos, sem nenhum resquício de que iriam acordar tão
cedo então decidi me juntar a eles. Sem fazer barulho me deitei ao lado de Ian
o abraçando assim como ele estava abraçando em nossa filha, deitei minha cabeça
em seu travesseiro e deixei meu queixo em seu ombro me embriagando com seu
cheiro gostoso.
– E ai,
como foi? - Ian sussurrou sonolento.
– Shh. -
Fechei os olhos forte para não começar a chorar novamente. - Depois conversamos
sobre isso... -Dei um beijo carinhoso em sua nuca.
– Você a
encontrou? - Assenti. – Sabia... Tem certeza que não quer falar sobre isso
agora?
– Tenho.
Só vamos dormir nós três, ok? - Me juntei mais a eles.
– Tudo
bem... - Se deu por vencido. - Assim que saiu pedi para uma mulher ir arrumar a
nossa casa, podemos ir para lá tranquilamente e tudo estará limpo.
–
Ótimo... - Sorri de leve contra sua pele. Ian queria fazer de tudo para me ver
bem e eu amava isso nele. - Te amo...
– Eu
também! - Respondeu, eu dei mais um beijo em sua nuca e o silencio tomou conta
do quarto e então nós três dormíamos juntos.
As horas
foram passando e nós continuávamos a dormir. Eu e Ian ainda estávamos cansados
por causa da noite anterior e Alice tinha brincado com Clarisse até tarde e
havia acordado cedo para irmos a praia então não era de se esperar que a
pequenina estivesse exausta e que dormisse a tarde inteira.
–
Papai... Papai! - Uma vozinha sonolenta e delicada chamou Ian nos acordando. -
Papai, você está me amassando! - E só então eu percebi que nós três passamos horas
dormindo na mesma posição e Alice ainda estava nos braços de Ian.
– Oh
filha, desculpe o pai! - Ian acordou e se espreguiçou assim que eu sai de cima
dele.
– Tem uma
baixinha aqui que vai dormir para lá da meia noite! - Falei olhando para Alice
enquanto arrumava meu cabelo desgrenhado. - Dormiu bem, filha? - Ela assentiu
ainda sonolenta e me imitou tirando os cabelos dos olhos.
– Tô com
fome... - Ali falou bocejando.
– Então
vamos fazer assim. - Ian se sentou na cama. - Você. - Apertou o nariz pequenino
de Ali. - Desce lá com a vovó e pede um pedaço do bolo de banana que ela dez
especialmente para as duas netas amadas dela e um suquinho de maçã enquanto eu
e a mamãe arrumamos suas coisas para sairmos hoje de noite? - Ian piscou para
mim.
– Nós
vamos sair? - Seus olhinhos brilharam.
– Vamos
sim! - Acrescentei.
– Vamos
aonde?
– Nós
vamos a uma casa muito legal que o papai alugou para nós passarmos o tempo
aqui. - Sorri para ela. – Tem uma piscina enorme, acho que você vai gostar! – A
paguei no colo.
– Não
mais que a mamãe... – Ian falou me olhando malicioso.
– Ian! –
O repreendi corando ao entender sobre o que ele falava.
– Parei!
– Riu alto.
– Mas
continuando. – Revirei os olhos e voltei minha atenção para Alice. – Podemos
comprar um montão de besteiras para comermos, alugar um desenho que você gosta
da Barbie, o que acha? – Ergui uma sobrancelha sugerindo para ela.
– Oba! –
Bateu palminhas feliz. – Podemos pegar pizza e chocolate e balas... – Levantou
um dedinho como se pensasse em varias coisas.
– Opa
opa, mas é muita coisa para um serzinho tão pequeno, não é não? – Ian falou
cutucando a barriguinha de Alice.
– Uma
coisa de cada vez né pequena! – Eu ri a amassando.
– Mas eu
estou com fome! – Falou carrancuda e com um bico.
– Então
faça o que seu papai falou, coma um bolinho que nós jájá vamos para a casa
legal, ok ?
– Ok! –
Levantou seu polegar fazendo “beleza” e desceu do meu colo.
– Hey,
cadê nosso beijo? – Cobrei.
– Ahhh...
– Ela bufou brincando enquanto voltava a subir na cama e dava um beijo e um
abraço forte em mim e depois em seu pai.
– Muito
bem, agora pode ir. – Sorri a ajudando descer da cama alta. – Ei psiu. – Chamei
sua atenção e ela olhou para mim. – Te amo! – Joguei um beijo no ar e ela
fingiu pegar e colocar no peito. – Cuidado com as escadas! – Gritei quando ela
saiu do quarto.
– Táá, te
amo também! – Respondeu no mesmo tom de voz que eu.
– Pronto,
agora podemos conversar! – Ian falou. – O que aconteceu?
– Ela
quer conhecer Alice... – Rolei os olhos.
– Wow....
– Falou espantado. – E você?
– Foi
obvio que eu não deixei, eu não quero que ela chegue nem um metro perto de Ali!
– Falei convicta. – Ela quis tirá-la de mim enquanto eu ainda estava grávida,
imagina agora! - Meus olhos encheram-se de lágrimas ao lembrar a noite que fui expulsa
de casa. – Ian, ela não vai chegar perto da nossa filha, para ela eu morri,
nunca nem se quer nasci, ok? Não quero que Ali conheça essa bruxa e também não
quero que ela conheça Ali! – Falei em desespero me desmanchando em lagrimas. Eu
já não sabia o que falava, me atropelei em palavras e eu só queria passar para
Ian que eu não queria Michaela perto de nossa filha.
– Hey
hey, ok, ok. Calma pequena, calma! – Ele pegou meu rosto delicadamente e então
secou minhas lágrimas com os polegares. – Ninguém vai fazer mal a Alice e ela
não vai chegar perto de nossa filha, ok? – Olhou dentro de meus olhos me
passando tranquilidade. – Eu estou com você, ok? Independente de sua decisão,
se quiser que Michaela conheça Alice a decisão é sua, infelizmente ela é sua mãe
e isso é critério seu, eu só vou te apoiar! Você sabe disso, não é? – Ele foi
me acalmando aos poucos e eu fui parando de chorar. – É isso mesmo que você
quer?
– Sim!
Quero ela longe de Ali.
– Então
assim vai ser! – Eu apenas assenti e coloquei minhas mãos em cima das suas e o
dei um beijo doce e demorado.
–
Obrigada... – Sussurrei, - Te amo demais!
– Eu
também! – Ele sorriu. – Muito!
– Vamos
arrumar as coisas da pequenina, então...
– Uhum...
– Me deu mais um beijo e nós fomos arrumar a bolsa de Alice.
Nós
arrumamos a bolsa de Ali e assim que ela terminou de comer seu lanche da tarde
nós três fomos para a nossa casa. Alice não parava de tagarelar comigo no banco
de trás, cantando musicas infantis e brincando com as mãozinhas enquanto eu
cantava alto junto com ela e Ian nos acompanhava quando sabia a letra.
Estacionamos
o carro na garagem e assim que o carro parou totalmente Ali desatou o cinto de
sua cadeirinha de segurança e pulou para fora do carro ansiosa.
– Tem
alguém ansiosa aqui papai! – Falei para Ian rindo.
– Casa é
toda sua princesa! – Ele abriu a porta da frente e então Alice saiu correndo
para dentro da sala. Segui os dois e passei pela porta, a sala estava toda
arrumada e o cheiro de limpeza invadiu minhas narinas. Felizmente e graças a
Ian, Alice não teria que presenciar a bagunça que eu e o pai dela fizemos
naquela casa no dia anterior, seria um tanto estranho ter que explicar para Ali
o que nós dois fizemos para termos deixado o lugar naquelas situações.
– WOW!
Papai, porque não podemos ter uma casa assim lá onde moramos? – Ali perguntou
contemplando o local.
– Você
quer uma casa assim? – Perguntou.
– Eu
quero! – Ali sorriu abertamente.
– Viu
mamãe, ela quer uma casa assim... – Ian sorriu malicioso para mim. – Gostou da
arrumação? Acho que a moça teve um trabalhão para arrumar essa casa toda... –
Continuou com o mesmo tom de antes. E então a imagem da mulher arrumando a casa
veio em minha mente, ela juntando todas nossas roupas espalhadas pela casa, o
quarto todo revirado e nossos brinquedinhos jogados no chão... Meu Deus, que
vergonha! – O que eu não daria para ler seus pensamentos... – Ian completou
rindo de mim. – Você tem que ver sua cor, pequena!
– Eu juro
que eu te odeio Somerhalder! – Revirei os olhos brincando com ele.
– Aham...
– Falou irônico.
– Ódio é
um sentimento feio, mamãe! – Alice me repreendeu.
– Viu
mamãe! – Ian mostrou a língua para mim.
– Ah meu
Deus, a piscina! – Alice olhou para fora e saiu correndo.
– Alice
Dobrev Somerhalder, cuidado, não chegue perto da piscina se não você cai e se
afoga! – Gritei correndo atrás dela. Ali estava bem na beirada da piscina e por
pouco ela quase não cai. – Filha, o que eu disse sobre a piscina? Fique longe
dela quando eu ou o seu pai não estivermos por perto, tudo bem? – Seus olhinhos
azuis eram pensativos e sua expressão era carrancuda. – Você quer entrar? – A
puxei para longe do perigo e me agachei em sua frente colocando uma mexa de seu
cabelo para trás da orelha.
– Mas eu
não quero me afogar, mamãe! – Fez beicinho.
– Você
não vai se afogar princesa, mamãe vai estar com você e o papai também. Vamos
cuidar de ti, só não queremos que venha aqui sozinha, combinado?
–
Combinado! – Afirmou.
– Vamos
trocar de roupa para entrarmos, então? – Sugeri arqueando a sobrancelha.
– Sim! –
Sorriu e de mãos dadas entramos na casa e fomos nos trocar.
Nós duas
colocamos nossos biquínis e então voltamos para a piscina onde Ian já estava lá
nos esperando.
– Já
posso entrar? – Alice me cobrou. Eu estava passando protetor solar nela, por
mais que já se passasse das três e meia, ainda tinha um mormaço e como a pele
de Ali era muito clarinha e sensível eu tinha que protegê-la.
– Ainda
não, espere mais um pouquinho! – Sorri com a sua impaciência. – Vire de costas,
Ali. – Ela obedeceu e eu espalhei o protetor pelas suas costas pequeninas. –
Agora só falta suas boias, e... – Deixei o protetor de lado e peguei o par de
boias de braço e coloquei um em cada braço de Alice. – Pronto, está devidamente
protegida.
– Já
posso entrar? – Soltou um suspiro.
– Venha
princesa! – Ian a encorajou e foi só o tempo de eu me virar para deixar as
toalhas nas espreguiçadeiras que eu escuto um “tibum” e gargalhadas
estrondosas.
– Venha
mamãe, ta bem quentinho! – Ali falou em meio a risadas.
– Será
que eu vou? – Cheguei perto da piscina e coloquei as mãos na cintura.
– Venha,
venha! – Ian gritou e então Alice entrou na dele e os dois começaram a me jogar
água. – Olha que eu vou ai e te pego ein! – Ian me ameaçou. Antes de eu
responder Alice saiu da piscina e veio até mim tentando me empurrar na água,
mas eu fui mais rápida e a peguei no colo e pulei com ela na água.
– Ahá
peguei você! – Ri.
– Assim
não vale, mãe, você roubou! – Falou secando os olhos e colocando seus cabelos
molhados para trás.
– Ah
roubei, é?
– Roubou
sim! – Virou o rosto bicuda para evitar meu olhar.
– Ish
Ian, tem uma menininha mal humorada, não vai da pra jogá-la pra cima...
– Será
que não vai dar? – Sorriu perverso chegando perto de Alice. – Acho que vai dar
sim, mamãe! – Ele chegou por trás dela e agarrou sua cintura a jogando para
cima e então Ali cai com tudo na piscina novamente.
– De
novo, de novo! – Gargalhou alto.
Nós
ficamos na piscina até começar a anoitecer. Alice ficou brincando de sereia ou
então que Ian era salva vidas e nos salvava na água. Depois eu e ela entramos
no banho enquanto Ian ia pegar pizza e os filmes que havíamos prometido a ela.
...
Voltamos
para a casa de minha sogra assim que acordamos, ou seja, na hora do almoço. Pai
de Ian estava estreando a churrasqueira e fez questão de que todos estivéssemos
lá para provar de seus dotes de churrasqueiro.
Nós
estávamos todos reunidos em volta da piscina enquanto Alice e Clarisse
brincavam de Barbie em nosso meio.
– Nina...
– Edna veio da cozinha com um olhar assustado. – Tem um senhor aqui na sala
procurando por você...
– Oi? –
Perguntei da mesma forme. – Um senhor?
– Ele não
disse o nome, só disse que precisa falar com você.
– Mas eu
não conheço mais ninguém aqui... – Falei pensativa. – A não ser meus... – Pais,
pensei. – Já venho, mantenha Alice aqui! – Levantei da cadeira e segui para
sala.
Em frente
a uma parede com quadros, com as mãos no bolso do jeans encontro meu pai de
costas para mim.
– O que
faz aqui? – Me amaldiçoei pela minha voz ter saído tão tremula.
– Nins...
– Sorriu para mim e eu apenas mantive minha compostura com o maxilar tenso e os
braços cruzados forte em meu peito.
– O que
faz aqui? – Repeti.
–
Conversar com você! – Soltou um riso baixo.
– Não
tenho nada para conversar contigo!
– Ai que
você se engana, mocinha...
– Então
fale logo! – Revirei os olhos. – Sobre o que quer conversar?
– Sobre
sua mãe.
– Repito,
não tenho nada para conversar! – Grunhi. – Aliás, como me achou aqui?
– Não foi
difícil, porque os Somerhalders estão alugando uma propriedade Dobrev e então
me lembrei de que você agora é um deles e como disse, não foi difícil e tudo se
encaixou... – Como assim essa casa era deles? Desde quando eles estavam
investindo dinheiro em imóveis? Ah sim, era dinheiro então não importava o modo
de conseguí-lo que eles já topavam. - Nina, não seja tão relutante, escute o
que tenho para te falar!
– Eu sei
que ela te mandou vir aqui, você é um pau mandado dela! – Cheguei perto dele o
desafiando.
– Não, eu
não vim aqui a pedidos dela, vim por minha conta mesmo. – Rebateu. – Mas enfim,
não estou aqui para discutir, o que eu vim falar é que sua mãe está muito mal,
Nina.
– Como se
eu me importasse... – Ri debochada.
– Nina,
seja compreensiva!
– Obvio
que eu vou ser, claro, vou compreender totalmente a mulher que me expulsou de
casa ao saber que eu estava grávida.
– Me
deixe contar a historia, acho bom se sentar... – Me mostrou a cadeira mas eu
relutei.
– Estou
bem de pé. – Resisti.
– Você
quem sabe... – Suspirou. – Bom, depois que você saiu de casa as coisas
começaram a ficar tensas, eu e sua mãe brigávamos todos os dias por meses e
meses... Eu comecei a culpá-la por tudo o que ela havia feito e por tudo que
havia acontecido, falei tudo o que ela havia feito para ti, não liguei em jogar
na cara dela todos seus erros. - Riu divertido. - Consequência? Ficamos uma
semana sem nos falar e nem dormíamos no mesmo quarto mas sabe, isso ajudou
bastante, essa semana ela pensou muito no que ocorrido e quando nós fizemos as
pazes ela teve uma crise de choro inconsolável, se ajoelhou em meus pés e jurou
que estava arrependida... Eu sei que era verdade, podia ver em seus olhos e
quando estávamos dispostos a procurá-la era tarde demais, você já tinha ido
embora para Nova Iorque. – Riu sem graça. – Você fazia muita falta garota, a
casa ficava extremamente vazia sem você e aquela bola de pelos... – Sorriu. –
Sabe Nina, sua mãe pirou, sério, pirou mesmo. A mulher entrou em uma depressão
profunda, não saía do quarto e quando saía parecia uma pessoa renovada, outra
mulher, conseguia até fazer piadas, rir de besteiras e às vezes eu tinha a
impressão de que fosse me matar de tão agressiva que ela ficava, teve um dia
que ela me empurrou tão forte contra a parede que eu fiquei com dor nas costas
por dias, sem nem falar nas cadeiras que ela tentava jogar em mim sem eu não
ter feito nada... Sério, não sei explicar todos os seus surtos e mesmo se
quisesse iria ficar o dia inteiro aqui sem nem falar que foram tantos que eu
nem me lembro. – Suspirou. – Eu a levei para o psiquiatra e ele aconselhou que
ela se internasse porque o que ela tinha era grave; Transtorno de personalidade
Bipolar, creio que já tenha ouvido falar sobre isso, mas é muito pior do que
uma simples oscilação de humor na pessoa.– Parou por uns instantes. – Mas como
era de se esperar, Michaela não aceitou ir e eu não podia interná-la contra sua
vontade, digo, eu podia mas não era indicado para o seu caso clinico. - Fez
gestos e mais gestos. - Bem, os surtos continuaram mas não tão intensos e com o
tempo se tornaram raríssimos porque a medicação controlava bastante... – Sua expressão
mudou e de triste passou para um pouco mais alegre. – E então você chegou, nós
te encontramos na praia e eu nunca vi sua mãe tão feliz como agora, parece que
ela voltou a viver, seus olhos tinham brilho, sabe? Nina, você não faz ideia o
quanto ela fala de sua filha, o quanto ela quer conhecê-la. – Era incrível como
essa historia não tinha me tocado. Para mim, ela poderia estar com uma doença
terminal mas eu não iria ligar.
– Não
estou nem ai para isso, essa historia não me comove! – Falei dando de ombros.
– Nina,
entenda, ela fez tudo aquilo contigo porque ela é doente, filha. – Falou
exausto. – Eu falei com o psiquiatra dela, contei tudo o que ela havia feito
para ti, para mim e ele me disse que ela já era doente na época, ela já tinha o
transtorno mas não era tão sério... – Explicou.
– E daí?
– Dei de ombros. – Mas e você? Porque não me defendeu? Porque não falou nada? –
Meus olhos se encheram de lágrimas. – Você viu meu sofrimento e mesmo assim não
fez nada, você ainda é pior que ela! – Não controlei e minhas lágrimas desciam
pela minha face descontroladamente. – E eu te odeio assim como odeio ela! –
Grunhi.
– Eu não
vou levar isso para o lado pessoal, você está magoada e eu te entendo, mas por
favor, nos entenda Nina, queremos perdão! E pense em sua mãe, o quanto faria
bem conhecer sua pequena... – Foi chegando perto de mim e eu me afastava. – Eu
não podia ficar contra Michaela, Nina, eu não conseguia, era fraco demais e
como você disse, sou um pau mandado e sem coragem. – Aleluia que em alguma coisa
nós concordávamos. Mas mesmo assim, eu não seria tão fácil.
– Estou
ouvindo certo? Perdão? Pensar em Michaela? – Ri debochada. – Você sabe o quanto
foi difícil para mim? Quando eu mais precisei de carinho, de compreensão,
quando eu mais precisei de um colo de mãe eu fui jogada na rua como se tivesse
alguma doença extremamente contagiosa, isso não se faz nem com um animal e
vocês fizeram sem dó com a filha de vocês! – Eu praticamente gritava e meu dedo
era apontado para o rosto dele, sem me importar que isso fosse falta de
respeito, - Eu vou te deixar uma coisa bem clara... Eu quero você e Michaela,
longe de minha filha, está entendendo? Longe dela!
– Nina,
sua mãe é doente, ela não fez nada de propósito, nada foi pensado, por favor,
ela é doente! – Insistiu.
–
Foda-se! Foda-se! Para mim ela pode morrer, está entendendo? – Gritei. – Saía
daqui agora, saía, eu estou mandando! – Continuei a gritar.
– Mamãe!!
– Alice veio correndo até mim com um tom preocupado.
–
Desculpe Nina, não conseguimos segurá-la, ela pirou ao te ouvir chorar e
gritar... – Ian veio atrás dela.
– Filha!
– Sequei minhas lágrimas e olhei para Ali que estava abraçada em minhas pernas.
– Mamãe,
porque está chorando? – Falou preocupada.
– Hey
mocinha... – Meu pai se ajoelhou em minha frente e falou com Alice, rapidamente
eu a peguei no colo a abraçando forte entre meus braços.
– Oh meu
amor, está tudo bem, ok ? – Deitei sua cabeça em meu ombro e acariciei seus
cabelos. – Vai embora, agora! – Enfatizei o agora.
– Me
deixe vê-la!
– Você
não ouviu que ela te mandou ir embora? – Ian chegou perto dele e falou em um
tom ameaçador.
– Tudo
bem... Eu vou. – Suspirou derrotado. – Mas eu sei que no futuro você vai se
arrepender disso, Nins...
– Sai! –
Ordenei.
Assim que
ele saiu eu não vi mais nada. Ian me abraçou muito forte de modo que Alice
ficasse entre nossos corpos enquanto eu chorava desesperadamente. Minhas pernas
amoleceram e o meu peso e o de Alice foi sustentado por Ian que tentava me
acalentar.
Eu estava
mais leve, muito mais leve e aquela seria a ultima vez na viagem que eu iria
ficar daquela forma por eles. Eles não eram mais importantes e eu já estava
resolvida em quanto a isso.
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