Como era de se esperar nem meu pai e nem minha mãe tocaram no assunto
sobre o que acontecera no sábado. Para eles eu iria facilmente desistir
da ideia de me formar pra ir para empresa e isso só confirmava que eles
não conheciam nada sobre mim.
Na minha adolescência inteira fui
tachada de rebelde por nunca concordar com o que eles queriam para mim,
tanto é que fui obrigada a fazer acompanhamento com psicólogo para
tentar acalmar a minha “revolta”. Meu único desejo na época era fazer
dezoito anos logo e conseguir mandar em mim, mas ali estava eu, com
dezoito anos, um filho na barriga e ainda sendo mandada pelos meus pais.
Irônico, não ?
Para ser sincera eu nunca entendi porque minha
família era assim. Talvez a criação deles tenha influenciado bastante,
ou é frescura deles mesmo. Meu pai ficou órfão aos onze anos e por isso
foi criado pela tia, ele nunca me falou muito sobre sua vida e eu não
tinha muita vontade de saber sobre isso, mas pelo jeito tinha sido um
tanto sofrida. Já minha mãe tinha sido criada em uma cidade pequena no
interior dos Estados Unidos e sua família tinha costumes bem típicos do
lugar e da época (o que justificava ela ser virgem aos 21 anos), ela
sempre me deixou claro que nada em sua vida havia caído do céu e que era
por isso que eu deveria aproveitar a oportunidade de trabalhar na
empresa da família.
Minha mãe também nunca conversou comigo sobre
muita coisa. Sexo, namoro, meninos, bebidas eu fui descobrindo sozinha e
o pouco que sabia, aprendi com uma babá que eu tive até meus 13 anos
(que por sinal foi despedida assim que eu comecei a chama-la de mãe).
Isso também justificava eu estar escondendo tudo isso deles, eu não
tinha intimidade e liberdade para conversar sobre garotos com a minha
mãe e muito menos para falar que eu estava grávida.
Pois é, mas
apesar de tudo isso eu nunca deixei de aproveitar minha vida dignamente.
Candicce sempre me ajudava a fugir de casa e por incrível que pareça,
seus pais nos encobriam. Eles achavam um absurdo o que meus pais faziam
comigo então sempre quando queríamos sair de noite falavam para os meus
que iriamos passar a noite assistindo filme por isso a casa de Candy era
meu ponto de fuga... Por mais irresponsável que isso fosse, eles
falavam que eu era uma menina de cabeça no lugar e que não iria
aprontar, por isso investiam em mim.
Ok tenho que admitir, nunca
nada me faltou e eu nunca passei dificuldades, mas as vezes eu preferia
ter passado um pouco de aperto para não ter que omitir tudo isso dos
meus pais... Triste, mas é verdade, só damos valor a alguma coisa quando
não a temos ou quando a perdemos.
Eu e Ian estávamos cada vez
mais preocupados, nosso bebê já tinha três meses, minha barriga já
começava a aparecer e por mais que eu tinha começado a usar blusas batas
e vestidos soltos dependendo do movimento que fazia ou como me sentava
dava para ver a saliência entre meus ilíacos. O que eu realmente
agradecia era por eu ser magra e a minha cintura não ter aumentado
tanto... Mas mesmo assim a verdade estava perto de aparecer e eu ainda
não tinha conseguido ter uma conversa civilizada se quer com a minha
mãe.
Mas por um lado, minha mãe não ter percebido nada, me
entristecia um pouco... Eu estava namorando a um bom tempo e minha mãe
nem se quer desconfiava(talvez um pouco mas não o bastante para eu ser
pega), meu corpo estava mudando a cada segundo e minha não notava! Até a
mãe de candicce e alguns professores já haviam notado pelo menos uma
diferença em meu corpo, mas minha mãe nada...
...
Nós
éramos o casal mais perdido e confuso que existia. Pesquisávamos na
internet sobre gravidez já que não tínhamos ninguém para conversar sobre
o assunto ou então ligávamos para sua mãe pra tirar nossas duvidas.
Sim,
eu insisti que Ian contasse a sua mãe porque se alguma coisa
acontecesse ela seria nosso plano de fuga. Depois dos dois terem ficado
uma hora no telefone falando o quão irresponsável nós fomos, eu fiquei
mais uma conversando com ela, nos conhecendo, e planejando uma viagem
para o Canadá enquanto eu ainda estivesse grávida... Como uma família
mesmo.
Em pouco tempo Dona Edna tinha se tornado minha aliada e
em tudo que eu tinha duvida ou quando queria conversar com alguém que
não fosse Ian ou Candicce eu a ligava e nós ficávamos horas conversando.
Às vezes eu sentia que poderia deixar minha vida inteira em Malibu e ir
para os braços da minha sogra no Canadá de tão bem que tínhamos nos
dado.
Ela me ajudou com várias coisas também, assim como quando o
bebê começou a mexer que ela me disse que parecia um celular vibrando
ou então maneiras de esconder a barriga ou como preparar o seio para dar
de mama nos próximos meses.
O mais engraçado foi quando Ian
começou a sentir ciúmes da nossa relação, ele falava que eu estava o
deixando de lado e dividindo as coisas da gravidez só com a minha sogra e
que ele estava perdendo o posto de filho... Mas era verdade, Edna tinha
se tornado minha mãe e eu não via a hora de conhecê-la.Com Ian eu tinha
descoberto o real significado de família.
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