Alice
felizmente estava melhor, assim como a minha relação com Ian. Ok, não estávamos
tão bem a ponto de ser comparado com a saúde de nossa filha, mas pelo menos, se
antes trocávamos dez palavras quando estávamos juntos, agora aumentou para quinze
ou vinte... Pois é, estávamos evoluindo.
Outra
coisa que estava evoluindo eram minhas amizades. Depois daquele dia na casa de
Alex que conheci Julian nós nunca mais nos largamos. Ele era uma ótima pessoa,
conseguia me fazer rir facilmente e tinha um humor incrível. Julian era
literalmente um gentleman e juro que se não amasse Ian com todas as
minhas forças até diria que estava começando a gostar dele.
Mas
infelizmente, ou felizmente, não sei, Ian não saía de meus pensamentos. Eu
continuava a amá-lo com todas as minhas forças e nem em meus sonhos conseguia
me ver livre dele. Tudo o que passamos, todas nossas memórias, tudo, tudo
continuava vivido em minha mente. Eu sentia tanto a falta dele, mas tanto...
Não sabia como era possível conseguir sentir tanto a falta de alguém como eu
sentia de Ian. Eu queria esquecê-lo, eu sentia que precisava superar esse meu
amor por ele, mas não conseguia, era mais forte que eu... Toda vez que eu
olhava para Alice era impossível não se lembrar de seu pai. Aqueles olhos azuis
perfeitos, no mesmo tom que os dele, a pele clara, o jeito de dar risada, as
covinhas... Ela era meu Ian em versão reduzida e masculina e eu a amava demais,
demais por isso.
Por mais
que eu quisesse odiá-lo, esquecê-lo, fingir que não precisava dele, mais eu o
amava, mais eu lembrava dele, mais eu precisava dele... Tentar não amá-lo,
me fazia amá-lo ainda mais. Eu que o tempo iria me ajudar a curar aquela
ferida em meu peito, mas por enquanto ela ainda doía e eu só ignorava. Se
tivesse algo que eu pudesse tomar para me ajudar a esquecê-lo ou esquecer o que
ele havia me feito, com certeza eu iria tomar, sem nem pensar duas vezes....
Acabava comigo pensar em esquecê-lo, pensar em deixar tudo o que vivemos para
trás, mas no momento era o mais sensato a se fazer.
Era
sábado e minha sogra preparava um almoço para a família. Sinceramente eu não
estava com a mínima vontade de ir, mas Robin e Alice insistiram que eu fosse.
Por mais que eu estava tendo uma relação amigável com Ian eu queria evitar ao
máximo conviver com ele para não ser tão difícil essa superação. Mas parecia
que o universo conspirava contra isso.
– Tia
Nina! – Clarisse saiu correndo de onde estava assim que eu entrei pela porta da
frente da casa de Edna.
– Cla!
Que saudades, boneca! – Me ajoelhei e abri os braços a abraçando forte.
– Eu
também tia, não suma mais!
– Juro
que não sumo! – Acariciei suas bochechas. – Como você está linda, cresceu um
monte.
–
Obrigada tia! – Falou meiga.
– Hey
Clarisse, ela é minha mamãe... – Alice falou me abraçando e meio que empurrando
Clarisse.
– O que é
isso Alice? – A repreendi. – Você nunca fez isso filha! – Falei um tanto
assustada.
– Mas
você é minha mamãe...
– Eu sei
que sou sua mamãe, mas sou tia da Clarisse também! Tem que saber dividir.
– Mas eu
não quero! – Fez bico.
– Porque
isso agora, Ali? – A coloquei em uma de minhas pernas enquanto Clarisse estava
em outra. – Clarisse é sua prima, filha, seja legal com ela, ela te ama tanto!
– Mas eu
não quero te dividir, você é só minha...
– Filha,
deixa mamãe te explicar; Eu te amo demais, te amo muito e sempre vou ser sua
mãe e você sempre vai ser minha princesinha, mas a mamãe também ama Clarisse. E
você sabe que a mamãe não gosta quando você faz isso... – Expliquei com a maior
calma do mundo para Alice.
– Não...
– Fez birra.
– Que tal
você se sentar ali no sofá quietinha e ficar pensando sobre o que aconteceu
para depois conversarmos? – Falei séria mas não grossa e ela me obedeceu, indo
sentar sozinha e emburrada como havia dito.
– Tia,
não briga com ela... – Cla a defendeu.
– Não
estou brigando amor, estou só a fazendo ver o erro. Eu sei que ela me ama mas
não ter esse ciúmes todo...
– Mas eu
a entendo e sei que ela é pequena ainda.
– Aw
brigada linda! – Dei um abraço forte nela. – Estava com muitas saudades de você.
– Eu
também tia... As coisas aqui são um tanto chatas sem você... – Deu um riso
malandro.
– Ah é
isso? Não gosta mais do tio Ian? Acha ele sem graça? – Chegou por trás de
Clarisse a dando um susto.
– Seu
bobo, me assustou!
– Era
essa minha intenção! – Riu. – O que houve com Alice? – Me perguntou.
– Ela
teve uma crise de ciúmes e eu a coloquei ali para pensar...
– Crise
de ciúmes, mas ela nunca fez isso.
– Eu sei,
por isso a coloquei para pensar...
– Ah... –
Assentiu carrancudo. – Hum, estou indo ali beber com os amigos do meu pai,
qualquer coisa me chame...
– Beber?
– Perguntei.
– Vai
querer me controlar agora também? – Retrucou.
– Não
Ian, não estou querendo te controlar e também não precisa ser estúpido, só
quero te lembrar de que hoje é você que fica com a nossa filha e será que vai
conseguir cuidar dela amanha de manha na ressaca ou mais tarde se beber demais?
– Usei meu tom superior tentando mascarar o meu magoado.
– Acho
que vou ficar na coca mesmo...
– Ótimo!
– Minha postura relaxou assim que ele saiu.
– Tia...
Vocês nunca mais vão voltar? - Clarisse me perguntou.
– Não sei
amor... Seu tio me magoou muito... E continua me magoando. – Suspirei magoada.
– Você
não o ama mais? – Me perguntou.
– O amo
Cla, o amo demais... – Suspirei derrotada. – Mais do que você imagina.
– Então
porque não o perdoa?
– É
difícil, pequena...
– Me
explique! – Exigiu.
– Hum...
Vamos ver... –A puxei para uma poltrona a colocando no meio de minhas pernas.
Pensei em algo bom o suficiente para contar para uma menina de oito anos de
modo que não ficasse tão contra Ian como estava. – O seu pai e sua mãe são
casados, não é? – Ela assentiu. – Então... Você acha legal seu pai ficar com
uma outra mulher? Que não é sua mãe? – Clarisse negou. – Não é legal, não é
mesmo?
– Foi
isso que meu tio fez contigo?
–
Basicamente... – Era obvio que eu não iria contar que Ian tinha sido tão
cafajeste a ponto de ter transado com Megan... Ela era muito nova ainda para
entender essas coisas.
– Tia, eu
queria tanto que vocês ficassem de bem. Meu tio não é mais o mesmo, não tem
mais aquele palhaço...
– Tudo
vai ficar bem, amor, nós te juramos!
–
Obrigada tia! – Sorriu de leve. – Agora eu vou ali com a minha mãe que ela
estava me chamando...
– Tudo
bem. – Sorri.
Assim que
Clarisse saiu, Alice veio até mim um tanto tristinha. Ela se colocou no lugar
da prima e se debruçou em minhas pernas.
– Mamãe,
você está triste comigo? – Falou com lágrimas nos olhos.
– Não meu
amor, mamãe não está triste! – Arrumei seus cabelos.
– Você me
desculpa?
– Claro
que desculpo. – A peguei em meu colo. – Mas não faça mais isso, combinado?
Mamãe te ama demais e você não precisa ter ciúmes da sua prima... Sempre vou
ser sua! – Sorri.
– Eu sei,
me desculpe. – Se deitou em meu peito e eu a aninhei ali.
O almoço
se decorreu normalmente, eu e Ian já tínhamos trocado nosso limite de palavras
do dia então tudo estava bem...
Durante a
sobremesa Julian me ligou me convidando para sair, ele estava pensando em ir a
um bar calmo onde havia musica ao vivo para podermos conversar, dar risada e dançar
um pouco também. De imediato eu recusei, mas depois acabei resistindo, sair com
outro homem era o que eu estava mais precisando, por mais que negasse ter
contato com o sexo oposto. Precisava dar uma chance ao coração, ele estava
cansado de sofrer.
– Filha,
mamãe está indo embora, ok ? – Falei com Alice que brincava no quarto que agora
era dela e de seu pai com Clarisse.
– Mas já?
– Já...
– Nós
vamos nos ver amanhã, não é mesmo? – Me perguntou.
– Vamos
sim, amanha nós vamos ficar juntas o dia inteiro.
– E o
papai também ?
– Você
quer o papai junto?
– Quero!
– Sorriu abertamente.
– Então
pergunte se ele quer ir amanhã com a gente...
– Quer
papai? – Sorriu para a porta e eu imaginei que Ian estava lá.
– Mas é
claro que eu quero!
– Então,
ok. – Sorri para ela. – Mas agora a mamãe está indo, ok?
– OK!
– Me de
um beijo e um abraço bem forte, mocinha! – A puxei para mim e ela fez o que eu
pedi. – Te amo demais princesa.
– Te amo
também, mamãe.
– Se
comporte, ok ?
– Pode
deixar. – Fez um “beleza” para mim e eu a dei mais um beijo e fui até Ian que
estava encostado a soleira da porta nos assistindo.
– Ian, eu
vou sair de noite, então se precisar de alguma coisa ligue no meu celular... –
Falei baixo para que Alice não escutasse.
– Vai com
quem?
– Vou com
um amigo!
– Um
amigo?
– Sim
Ian, um amigo! – Suspirei fundo e passei por ele mas logo ele segurou meu braço
com força me puxando para ele. – Me largue! – Exigi.
– Nina...
– Me repreendeu.
– Ian,
você me falou que ia tentar me reconquistar, mas até agora não fez absolutamente
nada a não ser um grande imbecil e estúpido! – Não aguentei e tive que falar o
que pensava. – Já faz quase quatro meses que estamos separados e você não move
nem um músculo para me ter de novo.
– Nina,
mas o que eu faço para te reconquistar? Como recuperar seu amor?
– Você
sabe o que fazer Ian, e simplesmente não faz... – Me desvencilhei de sua mão e
sai em desespero daquela casa.
...
Finalmente
eu estava naquele bendito bar depois de ter quase desistido umas cinco vezes me
sentindo uma tola por estar tão indecisa de ir ou não. Disquei o numero dele
inúmeras vezes e quase deixei chamar, mas achei sacanagem fazer isso com ele...
Eu tinha me arrumado em tempo recorde. Não tinha feito nada muito grandioso,
não escolhi minha melhor roupa e não exagerei na maquiagem. Era só Julian... Só
Julian.
De inicio
não pedi nada alcoólico. Não queria beber demais e acabar fazendo alguma coisa
que não quisesse então decidi não começar. Depois ele quis pagar algo para eu
comer e de tanto que insistiu dividimos um sorvete.
– Hey,
vamos dançar... – Pegou minha mão tentando me puxar da cadeira.
– Não...
Eu danço muito mal!
– Não
ligo! Venha! – Sorriu galanteador.
– Não...
– Fiz birra.
– Vou ter
que te fazer cócegas? – Ameaçou.
– Você
não ousaria! – Cerrei os olhos.
– Não me
provoque...
– Não
acredito que vou ter que fazer isso... – Revirei os olhos me levantando da
cadeira. Julian me conduziu até o meio da pista e contornou minha cintura com o
outro braço. Nossos corpos se colaram e eu não sabia o que fazer... Não sabia
se me afastava ou o deixava aproveitar do momento.
– Adoro
essa musica... – Falou olhando bem dentro de meus olhos.
– Eu não
conheço... – Ri dele. – Esqueceu que é mais velho que eu?
– Como se
seu ex-marido também não fosse muito mais velho que você... – Falou rindo.
Minha feição desmoronou e eu rolei os olhos triste com seu comentário. – Hey,
desculpe Nins... Não era minha intenção te magoar.
– Tudo
bem... – Suspirei.- É que, é, só um pouco difícil lembrar dele.
– Você é
uma mulher muito especial, sabia disso? – Usou a mão que estava em minha
cintura para pegar meu rosto e acariciar minha bochecha em um carinho gostoso.
– E no momento, estou com muita vontade de te beijar... – Sorriu galanteador
para mim. – Se você não fizer nada, não vou resistir... – Eu suspirei um tanto
confusa, não sabia o que fazer... Só deixei ser guiada pelo momento mesmo.
– Então
não resista... – Falei baixinnho. Julian enroscou seus dedos em meus cabelos e
levemente me puxou para ele. Deixei que ele tocasse meus lábios em vários selinhos
e logo sua língua quente me pediu brecha.
Quando me
dei por conta nós nos beijávamos avidamente, como se tudo fosse acabar naquele
momento. Suas mãos apertavam minha cintura com força enquanto eu o puxava para
mim pela sua gola da camisa. Acho que aquela cena não estava sendo muito
decente aos olhos dos outros, mas Julian pareceu não ligar e continuou me
beijando.
Era um
beijo bom, diferente. Não posso negar que estava gostando das caricias, afinal,
era humana. Mas não eram os beijos que eu estava acostumada a receber, não eram
as caricias audaciosas que meu corpo costumava a pulsar ao senti-las, minhas
reações não eram tão intensas e nem tão prazerosas como as que Ian me
causava...
Ian, Ian,
Ian, era sempre Ian. Por mais que eu quisesse esquecê-lo, algo sempre o me
trazia de volta. E naquele momento, tinha Ians demais em meus pensamentos para
o meu gosto...
A imagem
dele fez, as lembranças de nossos beijos, seus intensos olhos azuis falando que
me amava inundaram minha mente e eu não consegui fazer outra coisa a não ser
afastar Julian de mim.
–
Desculpe... Isso não deveria ter acontecido! – Espalmei as mãos em seu peito o
afastando sutilmente. – Eu... Eu... Eu não estou preparada para isso. Me
desculpe.
– É ele,
não é? – Falou. Eu cruzei meus braços entre nós desviando o olhar enquanto ele
ainda segurava minha cintura.
– Uhum...
– Assenti envergonhada.
– Você
ainda o ama, não é mesmo?
– Demais!
– Suspirei derrotada. – Me desculpe, isso foi um erro, não deveria ter aceitado
sair com você...
– Quer
conversar?
– Não...
Só quero ir embora.
Era Ian e
sempre seria Ian...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não saía sem comentar (: