Não podia
ser... Eu queria acordar, eu precisava acordar. Implorei para Deus que
aquilo fosse só um pesadelo, o pior de todos, mas infelizmente era realidade...
Ian, o
meu Ian aos beijos com Megan....
Acho que
meu coração parou naquele momento junto com tudo em mim... Eu estava quebrada,
despedaçada, em milhões de cacos.
Eu só
mandei uma mensagem para Ian dizendo que eu e Candicce tínhamos buscado Alice e
que eu já estava em casa, queria fazer uma “surpresa” para ele. Ali chegou
dormindo em e eu agradeci por ela não ter que presenciar eu e Ian brigando ou
meu choro inconsolável durante o caminho.
Chegando
em casa eu peguei algumas malas e fui jogando as coisas de Ian lá dentro de
qualquer jeito. Eu o queria longe de mim, o mais longe possível. Queria
esquecer que um dia eu fui completamente apaixonada por ele, eu necessitava
esquecer.
Deus,
como doía, doía demais. Era tanta dor que eu não conseguia nem explicar, acho
que nem cabia no meu peito de tão intensa que era, não sabia de onde ela vinha
mas só tinha certeza que ali ela ficaria por um bom tempo.
Eu
desejava com todas as minhas forças que aquilo fosse um pesadelo, que tudo
aquilo não passasse de ilusão e que eu acordaria no meio da noite nos braços de
Ian. Como ele teve coragem de fazer isso comigo? Como ele conseguiu mentir tão
bem? Como ele ainda conseguia olhar para mim e ainda dizer que me amava? Como
ele tinha conseguido fazer isso com Alice? Com a nossa família? Ele era um
covarde, um tremendo de um covarde.
Ian tinha
se tornado tudo o que eu pensei que ele não fosse. Para mim ele era perfeito, o
melhor homem do mundo, o mais fiel, o único. Mas agora, eu percebi que ele era
um mentiroso e traidor, agora tinha percebido que ele era igual a todos os
homens do mundo. Sabe o que era pior? Eu o amava, amava incondicionalmente e
com todas as minhas forças mas o pior mesmo era que eu era idiota o suficiente
para ainda ama-lo e ainda continuar o amando pelo resto de minha vida.
Eu estava
sentada no sofá da sala me concentrando em parar de chorar para que quando Ian
chegasse não me visse aos prantos por causa dele. Já era bem humilhante saber
que eu havia sido traída e chorar na frente dele devido a isso se tornava ainda
mais humilhante.
A porta
da sala foi aberta e meu coração disparou, minha adrenalina foi a mil e minhas
mãos tremiam...
– Oi
pequena. - Sorriu para mim. - O que significa isso? Alguém vai viajar?
– Você,
essas malas são suas... - Falei seria.
– Como
assim? - Fechou a porta e veio até mim.
– Como
pode Ian? Como teve coragem? Como conseguiu ser tão baixo? - Perguntei
controlando o choro. - Sinceramente Ian, você achou que eu não fosse descobrir
não é?
–
Nina.... Quem te contou?
– Ninguém
contou, eu vi vocês aos beijos em frente ao escritório do seu pai... – Ri sem
graça. – Me responda Ian, você transou com ela? - Ele não falou nada, só
suspirou fundo não conseguindo olhar em meus olhos. - Sabia... Saía daqui! –
Apontei pra porta da sala.
– Nina,
por favor, me deixe explicar. - Seus olhos se encheram de lagrimas e ele
começou a se desesperar e suas mãos tremiam.
– Vamos
lá...
– Eu
estava bêbado Nina, não sabia o que estava fazendo. - Começou a chorar em
prantos. - Nós tínhamos brigado, eu fui para o bar e ela estava lá. Nós
começamos a conversar a beber, eu bebi demais, nós dois ficamos bêbados e então
eu perdi o controle e quando me dei conta já tinha feito... - Imaginar aquela
cena fez meu estômago revirar, meu peito doer... Meus olhos queimaram de
lagrimas e eu não consegui evita-las, desmanchei em lagrimas na frente dele
mesmo.
– Pare,
já é o suficiente. – Fechei os olhos.
– Por
favor Nina, você não sabe o quanto eu estou arrependido, me perdoe, eu ia te
contar.
– Quando
Ian? Quando Alice fizer dezesseis anos? Ou então quando sem querer ela
engravidar de você? - Falei em prantos. - Deus, como eu sou idiota! Eu confiei
em você Ian, eu te amei como nunca nenhuma mulher te amou e é assim que você me
agradece?
– Nina,
te imploro perdão! Eu juro que não significou nada, eu amo você, você é a
mulher que eu amo, Nina! Você é única para mim.
– Ian,
você transou com ela, tem noção o quão intimo uma transa é? Em pensar que eu
fiquei culpada por Alex ter me beijado a força... – Como eu era idiota...
Enquanto eu me culpava por ter “deixado” Alex me beijar, ele transava com
Megan.
– Como
que é? - Falou exaltado. - Porque não me contou? Como assim? Como que você
deixou uma coisa dessas?
– Menos
Ian, muito menos! Você transou com outra mulher então fique calado. - Ordenei.
– Por
favor Nina... - Implorou. - Se quiser eu até me ajoelho aos seus pés, mas não
faça isso comigo, eu te amo demais, você não sabe o quanto. - Fechei os olhos e
apenas ri sem graça. – Nina, por favor, acredite em mim... Eu nunca quis te
magoar, nunca, nunca quis. – Ian chorava desesperadamente, nunca o vi chorar
dessa forma antes, nem quando sua avó morrera há dois anos.
– Por
favor, Ian, saía daqui... - Falei de olhos fechados sentindo minhas lagrimas
escorrerem pela minha face.
– Nina...
– Ian,
agora! Não me faça pedir de novo. - Meus braços estavam cruzados com força em
meu peito, parecia que eles me seguravam para que eu não desmontasse ou que ele
escondesse o enorme buraco que ali se encontrava.
– Tudo
bem, eu vou... Mas quero que saiba que é você que eu amo e que eu vou fazer de
tudo para te reconquistar... - Pegou suas malas e saiu, levando com ele tudo de
bom que eu tinha.
Minhas
pernas estavam bambas, eu me sentia tonta, angustiada. Não consegui suportar
meu peso e assim que a porta foi fechada, desmoronei no chão.
Eu tinha
me entregado de corpo e alma a Ian. Eu era totalmente dele, cada fibra de mim
pertencia a ele. Eu iria ama-lo para sempre mas ele não iria me amaria, ele não
me amava mais e disso eu tinha certeza. Agora ele tinha outra, eu não pertencia
mais a ele e ele não pertencia mais a mim.... Deus, como doía...
Eu
levantei e me rastejando fui até o quarto de Alice. Minha princesa dormia
tranquilamente, não fazia noção do que estava acontecendo com seus pais, não
fazia ideia do cafajeste que seu pai era. Maldito cafajeste, como eu o amava.
Amava demais e sempre amaria. Nunca mais seria de outro homem, nunca mais
amaria outro como eu o amei.
Só
percebi que estava chorando quando me debrucei na cama de Alice e minhas
lagrimas começaram a molhar o seu lençol rosa, malditas lágrimas. Ajeitei seus
longos cabelos negros fazendo carinho neles e em seu rosto de leve para que ela
não acordasse. Ali era tudo o que eu tinha, ela era minha vida, era
literalmente a razão do meu viver. Eu a amava tanto que parecia que não ia
caber em meu peito, parecia que ele iria explodir de tanto que a amava.
– Oh
minha pequena, agora somos só nós duas... - Contornei com a ponta do dedo seu
nariz pequenino. - Eu te amo minha filha, te amo demais, você não faz ideia o
quanto... - Sussurrei. - Eu juro que vou ser a melhor mãe que alguém pode ser,
vou ser a melhor mãe solteira que já existiu... - Esse pensamento me fez
entristecer ainda mais... Pensar em viver uma vida sozinha, só eu e minha filha
sem Ian era extremamente obscuro, nunca se passou em minha mente que eu iria me
separar de Ian assim...
Me
levantei exausta deixando minha filha dormir e fui para o meu quarto. Coloquei
um pijama leve e me deitei na cama. Por impulso puxei o travesseiro que era de
Ian me abraçando nele... De longe foi a pior coisa que eu já tinha feito, ali
naquela fronha tinha o cheiro dele, seu perfume misturado com o perfume másculo
do seu pós-barba e com o cheiro dele mesmo. Foi uma facada em meu peito, eu já
sentia saudades dele, sentir seu cheiro era ainda pior... A cama estava vazia
demais, fria demais... Faltava o calor de Ian, o corpo de Ian... E agora, para
sempre faltaria...
Não
conseguia parar de pensar nele, imagina-lo na cama com Megan... Ele a tocando,
a beijando da mesma forma que ele me beijava que ele me tocava... Ela o
tocando, contornando seu corpo delicioso, beijando o corpo que uma vez me
pertenceu... Isso Nina, jogue mais ácido na ferida...
Aquela
seria uma longa noite e ela não estava nem na metade...
Não
conseguia dormir, me virei inúmeras vezes na cama, minha cabeça explodia de
tanto chorar e eu não sabia de onde arrumava tanto fôlego para lagrimas...
Ainda acreditava que aquilo não se passava de um pesadelo.
O dia
começou a amanhecer e eu não havia dormido ainda, o céu estava começando a
ficar claro e eu não sentia nem um pouco de sono. Eu sei que se dormisse os
sonhos iriam insistir em aparecer e eu não queria isso, não queria Ian só na
minha inconsciência, eu o queria ao meu lado, só meu, me acalentando falando
que era tudo uma brincadeira de mal gosto que ele ainda era só meu mas
infelizmente aquela era a realidade...
Eram
cinco da manha e eu estava impaciente. Estava agoniada e inquieta, precisava me
mover para não ficar pensando em Ian.
Me
levantei, peguei um jeans e um suéter do closet e fui tomar banho. Eu estava
horrível, pior impossível. Não reconhecia aquela Nina que estava refletida no
espelho... Ela era triste demais, incompleta demais e sinceramente, eu não
gostava nem um pouco dela.
A água
quente relaxou meu corpo e eu não tive vontade de sair dali nunca mais, demorei
tempo o suficiente para que minha mãos ficassem enrugadas e quando percebi que
já era hora de sair, desliguei o chuveiro derrotada. Fiz um coque frouxo com os
cabelos molhados mesmo e sem ligar para me arrumar, ignorei qualquer tipo de
maquiagem e só passei perfume mesmo.
Fui para
cozinha e preparei uma térmica cheia de café para mim. Coloquei a tigela com
cereais e a garrafa de leite no lugar de Alice. Por impulso, no lugar de Ian
coloquei sua caneca e tudo que ele gostava, como se ele fosse tomar café da
manhã comigo... Aaah... Como iria demorar para eu me acostumar a viver sem ele.
Me sentei
no lugar dele e tomei café sozinha, bebi a metade da térmica, sem ninguém para
me acompanhar ou para reclamar que ele estava forte demais... Me obriguei a não
pensar nele enquanto esquentava meu peito frio com aquele café quente, deixei
meus pensamentos desligados, minha mente estava em branco e eu agradeci por
isso... Talvez nem fosse tão difícil superar se eu fizesse isso sempre...
Olhei no
relógio na parede e já eram quase sete horas, me levantei para acordar Alice.
Subi as escadas lentamente e quando cheguei ao quarto dela me sentei ao seu
lado na cama acariciando seus cabelos.
–
Filha... - A chamei. - Vamos acordar, amor... - Ela choramingou me fazendo
sorrir pela primeira vez no dia. - Ali, temos escola, lembra? - Lentamente seus
olhinhos foram se abrindo mas se fechando de imediato devido ao sono. - Vamos
pequenina... Vamos ver os amiguinhos, brincar, desenhar... - Ela bocejou se
espreguiçando - Isso... Vamos lá que temos que sair mais cedo, princesa. - Me
levantei e peguei seu uniforme. - Dormiu bem amor? - Ela já estava sentada na
cama me esperando.
– Uhum...
– Assentiu ainda sonolenta.
– Que
bom! - Sorri. - Agora levante os braços para tirarmos a camisola. - Ela me
obedeceu e eu a arrumei rapidamente, depois penteei seus cabelos fazendo Maria
Chiquinha neles e depois descemos para que ela tomasse café.
– Cadê
meu papai? – Perguntou quando a coloquei sentada em seu cadeirão. Era obvio que
ela iria reparar na ausência de Ian e pra falar a verdade eu fiz essa cena
milhões de vezes em minha mente na madrugada, todas com respostas diferentes e
para falar a verdade não fazia ideia do que falar para ela. Me sentei ao lado e
peguei sua mãozinha a segurando forte.
– Amor,
deixa mamãe te explicar uma coisa... - Suspirei procurando as palavras certas.
- Agora, o papai mora em outra casa... Nessa aqui sou só eu e você. - Meu lábio
inferior começou a tremer e eu tive que mordê-lo com força para que não
chorasse na frente de Alice. Eu tinha que mostra-la que eu era forte e que tudo
estava bem, mesmo sendo uma completa mentira.
– Eu não
vou mais ver meu papai? - Seus olhinhos encheram-se de lagrimas e eu sem querer
deixei uma fina cascata escorrer pelo canto dos meus olhos.
– Não meu
amor, você vai ver sim seu papai, sempre que quiser a hora que quiser só que
ele não mora mais com a gente... - Sequei imediatamente a maldita lagrima para
que ela não visse. – Mas agora, o papai e a mamãe são só apenas bons amigos.
Por exemplo, o papai não dorme mais na cama com a mamãe, lembra que eu te
expliquei que nós dormíamos juntos porque éramos um casal?
– Ele
nunca mais vai voltar? - Boa pergunta Ali...
– Não sei
meu amor... Não sei...- Sorri de leve para ela. - Coma seu cereal para
escovarmos os dentes.
Alice
assentiu e continuou a comer. Logo nós já estávamos quase saindo para a estação
de metro quando fomos interrompidas pelo barulho inesperado da campainha. Deixei
Alice sentada no sofá da sala e fui abrir a porta.
– Ian...
O que faz aqui? - Meu coração simplesmente disparou...
Ele
estava lindo, como sempre. Seus cabelos estavam molhados e ele usava uma jeans
e uma polo, bem simples mesmo mas estavam combinando perfeitamente. Não pude
deixar de notar em seus olhos, extremamente inchados e vermelhos... Até parece
que tinha chorado a noite inteira como eu...
– Vim
buscar vocês... - Sua voz era mais rouca que o normal e um tanto tremula. -
Você esta sem carro e não quero que leve Alice para escola de metro e nem que
vá para faculdade ape...
– Muita
gentileza da sua parte, mas eu não quero. – Falei fria.
– Eu insisto...
– Já
falei que não quero! - Falei brava. – Não preciso de seus favores.
– Vai me
fazer perder a viagem? - Perguntou magoado.
– Vou! –
Falei convicta.
– Nina,
qual é!
– Bom, já
que você insiste, adoraria que você deixasse Alice na escola pra mim hoje. –
Suspirei derrotada.
– Te
deixo na faculdade também....
– Não,
obrigada! Eu dou um jeito! - Continuei com o mesmo tom rude de sempre. - Ali,
olha quem veio te levar para escola...
–
Papai!!! - Saiu correndo para os braços de Ian.
– Minha
princesa, que saudades que eu senti de você! – A abraçou forte beijando sua
bochecha forte.
– Eu
também papai...
– Bom,
estou indo para a faculdade... – Peguei a minha bolsa.
– Mamãe,
você não vai me levar para escola também ?
– Não meu
amor, mamãe vai ape pra faculdade, mesmo... – Fingi um sorriso. – Fiquem a
vontade aqui... Tchau minha princesa, mamãe te ama, ok?
– Te amo
também!
– Se
comporte, coma direitinho e se divirta, ta? – Cheguei perto dela a dando um
beijo demorado em sua bochecha.
– Tchau
Nina... – Ian falou.
– Tchau!
– Falei grossa sem olhá-lo.
Ele tinha
as chaves da casa ainda, então não me preocupei em sair daquele jeito. Ficar
com ele de baixo do mesmo teto me sufocou de uma forma tão intensa que eu
pensei que fosse parar de respirar... Tortura, tortura demais... Estava tão
desligada que nem percebi o quanto foi rápida a viagem até minha faculdade. Só
realmente me dei conta quando vi o rosto amigo de Candicce. Sem pensar duas
vezes corri para os braços de minha amiga em um abraço tão forte mas tão forte
e acolhedor que eu quase, digo, quase me esqueci de tudo.
– Acabou
amiga, acabou! – Desmoronei em lágrimas encharcando sua roupa com minhas
lágrimas.
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